segunda-feira, dezembro 18, 2006

Lembranças de domingo.


Burburinho de gente em domingos ensolarados. Mesas nas calçadas dificultando o tráfego de pessoas. Muitas barracas de artesanato. Barreira urbana que dificulta a chegada no parque. Situação irritante.
Logo na entrada as árvores garantiam sombra em meio ao vai-vem das pessoas.

Um play-ground me aproxima das brincadeiras infantis : risadas, brinquedos na terra, corre-corre. Coisa boa com cheiro de inocência e lembranças.

Passeio entre as pessoas, num ritmo dominical. Sento num banco e fico observando. Conversas alegres, namorados, gente também me observando e muita tranquilidade...

Caso não fosse minha insensata mania de viver nesse caos, adaptaria-me no mato. Árvores altas, que se entrelaçam impedindo que o Sol penetre seria meu café da manhã, olhando de uma janela de madeira.

Meus pais tinham um sítio no sul de Minas Gerais e nas férias ia para lá. Passava o mês todo. Numa dessas viagens permanecemos : eu, um primo e minha irmã. Levantávamos cedinho para buscar leite num sítio vizinho. Íamos com um galão vazio pela estrada de terra, conversando e rindo. O dia transcorria tranquilo com direito a banho de rio e caminhadas. No final das tardes fazíamos um ritual. O das mariposas. Não havia energia elétrica e como sempre nos esquecíamos de colocar as telas nas janelas, elas entravam na casa. Para nos desfazer desses bichos que insistiam em voar em torno da gente, pegávamos o martelo e depois de um mantra as acertávamos nas paredes...Não sobrava uma.

Certa madrugada, em breu total, ouvímos um barulho lá fora e entramos em pânico. Os lampiões já estavam desligados e não achávamos as lanternas.
Encontramos, não sei como, uma vela que mais nos queimou que iluminou em volta. Ficamos, do quarto, imitando vozes grossas para ver se espantávamos o invasor. Provavelmente era um bicho que desconhecia o português... Passamos o resto da noite conversando para disfarçar o medo até adormecermos, já de manhã.

Lembranças boas e com elas voltei ao banco do parque nesse domingo e quando me dei pela hora estava alí há mais de uma...Levantei e fui embora sem nem me importar com as pessoas esbarrando em mim na calçada cheia, da avenida Paulista.

sábado, dezembro 09, 2006

Oaxaca livre!


"COPAI-México.

I. A Outra Campanha no norte do México: dizer "Oaxaca" em cima ou em baixo

Centenas de detidos e detidas ilegalmente, dezenas de desaparecidos, torturas, golpes. Homens e mulheres jovens, indígenas, meninos e meninas, anciãos e anciãs. Como quem diz: o povo oaxaqueño de baixo. Em cima a Polícia Federal Preventiva, os paramilitares de Ulises Ruiz, os grandes meios de comunicação, a classe política.

Calar frente a isso é dizer "Oaxaca" de cima, e de cima fazer os clientes contentes... e idiotas

Porque lá em cima se apressam em declarar que tudo voltou a normalidade e que o "conflito" está controlado porque foram detidos "os dirigentes", como se esse movimento tivesse "líderes" para serem comprados ou presos ou mortos. Dizem que agora é necessário se voltar para o outro lado. Quer dizer, não deixar de olhar para cima, para a parafernália do poder político, para suas simulações, sua aparência de que mandam e ordenam enquanto o verdadeiro Poder dá a ordem do dia a seus meios de comunicação, comentaristas. locutores, artistas, intelctuais, chefes de polícia, militares e paramilitares.

Dizer "Oaxaca" de baixo é dizer companheira e companheiro, é acolher quem é perseguido, é mobilizar as forças próprias para a apresentação dos desaparecidos, para a libertação das detidas e dos detidos, é informar, é chamar a solidariedade e o apoio internacional, é não calar, é dizer esta dor do sul e indicar que se extende por todo o país e mais além das fronteiras dos quatro lados, como se fosse por baixo por onde se nomeiam, se falam, se escutam, se caminham as dores.

Oaxaca se extende na dor, mas também na luta. Pedaçoes deste povo, como se de um quebra-cabeças de tratasse, se espalham por tod o território nacional e mais além de um limite geográfico que, ao menos no norte, é mais ridículo do que nunca.

Durante os dois meses que caminhamos nas diferentes esquinas do norte mexicano, Oaxaca foi aparecendo uma e outra vez. E se vestia de dor e raiva, e nos falava e nos olhava.

E a Outra escutou e escuta, e estende os braços como estenderam, em solidariedade com Oaxaca, os limites de zapatistas que em duas ocasiões paralizaram as estradas de Chiapas, e as Outras em todos os rincões do México de Baixo, e os outros e outras nas esquinas do mundo. Como os estendem. Como continuarão estendendo embora ninguém leve em conta, como não seja o espelho fragmentado que somos quem ninguém somos.

Diante de Oaxaca, para Oaxaca e por Oaxaca, dizemos:

COMUNICADO DO COMITÊ CLANDESTINO REVOLUCIONÁRIO INDÍGENA - COMANDO GERAL DO EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL. MÉXICO.

2 de dezembro de 2006."

Fonte : Centro de Mídia independente - www.midiaindependente.org

sábado, dezembro 02, 2006

Bichos.


Algumas coisas são inevitáveis de sentir. O sol no verão, o cheiro de chuva quando inunda a terra, e o prazer de ouvir rock quando os bichos internos estão gritando!

Nesse momento estou ouvindo um velho cd do Foo Fighters, de 96/97 : "The colour and the shape". Meu, cacete, os caras estão muitos bons nele! Combinam com meus bichos de hoje. Para ser sincera essa ira interna que apenas o rock and roll entende e traduz sempre me aompanhou. Tudo bem. Fernando Pessoa, Clarice Lispector também me traduzem e não são músicos...

De qualquer forma, música é muito bom, sempre! Ainda bem que existem caras que dedicam suas vidas a isso. Imprescindíveis. Tenho mó tesão em músicos, os caras têm meu respeito, sejam eles homens ou mulheres. Afinal nem todo tesão é meramente sexual. Os meus, ao menos, são múltiplos.

Sinto prazer num debate bem argumentado, daqueles que empolgam e deixam os pensamentos velozes. Adoro gente que sabe explicitar, com profundidade, o que pensa. Gosto de velocidade, inteligência, bom humor, sarcasmo e uma pitada de segundas intenções. Mistura boa essa. Mas eu estava tentando explicar meus tesões não sexuais, caraca, dancei nessa... Foda-se, vou continuar ouvindo meu bom e velho rock and roll, dançando na sala e pensando no que vou fazer com você mais tarde.
Saudações iconoclastas!!

domingo, novembro 26, 2006

Silêncio


São Paulo está úmida e silenciosa hoje. Os carros e as pessoas quase não circulam. Só o vento e o vazio percorrem as ruas. É comum todos se recolherem aos domingos. Dia morno, independente da temperatura, que antecede o inadiável das segundas.

Gostaria de ter o vento a me preencher nessa noite vazia. Ando rasa de convicções e minhas angústias se ampliam. Já não sinto a confiança que as crenças trazem. Como será caminhar daqui para frente?

Quero minhas antigas e confortáveis convicções, mas apenas meus princípios insistem em me acompanhar. Inúteis. Minhas experiências são responsáveis pelo meu estado atual. Não adianta gritar, nem deixar de ler jornais. Aliás faz dois meses que deixei de pagá-los, o dinheiro não sobra e vão-me cortá-los. Dane-se, tenho mesmo a voz rouca, cansada e não sei quais palavras usar. Vozes assim, vazias, não encontram eco. Pelo contrário, dissipam-se, confundem-se com os milhares de gritos ocos, urbanos, contemporâneos.

Talvez eu consiga ser normal, finalmente. Adaptável e submissa. Vou estancar meus pensamentos para ver se consigo. Tenho de fechar os olhos, para não ver. Fecho. Ainda penso. Tampo, então, meus ouvidos. Continuo a pensar. Pior. Minha atenção se aguça e vejo-me melhor. Retratinho deplorável esse.

Melhor livrar-me dele ou disfarçá-lo. Pintá-lo com cores que me escondam. Melhor mesmo seria meu silêncio. Ahhhhh, essa voz rouca que insiste em sair...

Hoje, mais que em outros dias, quero deixar de tentar. Meus esforços são sempre vãos e erro mesmo quando não quero, com quem tenta me ajudar. Alguém gosta de errar? Desculpe, você só quis deixar-me feliz e eu o suguei. Conectei minhas ventosas fétidas nas suas informações. Tenho uma vontade ilimitada de ontem, de ante-ontem, de amanhã e de depois de amanhã. Não ligue. Apenas não tente de novo, assim não machuco você.

Madrugada alta. Todos dormem. São Paulo nunca dorme...Que alívio sabê-la assim. Ouvinte silenciosa das minhas mazelas humanas. Segure o esgar, porque sua inocência inexiste, cidade cinza que hoje anoiteceu silenciosa e úmida...Úmida. Uma. Minha. Toda.

segunda-feira, novembro 06, 2006

K.

Considero escrever muito difícil. No entanto, minha necessidade de expressão extrapola o bom-senso e arrisco-me, como sempre, aliás. Embora acabe atrapalhando-me no processo e apareçam os imprevistos, vou em frente. Claro que conto com "incentivadores", amigos que conseguem fazer com que não desista. Dentre esses incentivadores há um que foi o responsável por eu tentar escrever e fazer esses limitados exercícios por esse blog. Por isso, se alguém for criticar-me que se dirija a ele... Brincadeiras à parte, quando disse acerca da minha necessidade de escrever e de como sou débil para tal, foi ele quem me incentivou. Falou-me do blogger e como deveria manter tudo que fizesse, a fim de ir melhorando a cada erro cometido. É o processo que ele usa para desenhar, e se houvesse qualquer forma de comparação entre essas "formas de expressão" eu estaria anos luz aquém da qualidade do trabalho dele. O cara é fera, de fato. Infelizmente não sou uma boa aluna, e apesar da minha forma torta de escrever quero hoje fazer uma homenagem a Ele. Uma pessoa, para lá de especial, que também compartilho minha vida (Sorte minha, azar dele. Já o preveni sobre isso também e , ufa, ele desconsiderou meu aviso!!) e que hoje aniversaria. Desejar a ele plena felicidade seria redundância. Isso quero sempre. Só posso então, da forma mais sincera possível, dizer-lhe do meu amor, de que tudo que eu puder fazer para ver-lhe bem, o farei. Penso que ele já tenha percebido isso.Espero que sim. Então, vou mandar um recado mais direto : Saiba que permanecer ao seu lado é feito um presente acompanhado de reaprender, de ensinar, de doar, de receber, de liberdade, de tesão, e de que viver me surpreende e vale a pena!! Grande beijo!

sexta-feira, novembro 03, 2006

Confiar


Estava quente, a chuva incessante havia deixado o dia abafado. São Paulo estava insuportável. O concreto reteve o calor e os prédios dificultavam a circulação do ar. Fim de tarde comum num quase verão oficial.

Molhei o rosto e deixei-o secar sozinho para ver se essa coisa toda melhorava. Voltei à janela, onde havia permanecido grande parte da tarde, e agora olhava as luzes que iam aparecendo. Daqui alguns dias as de Natal se farão presentes, brilhando em formatos de estrelas, renas, árvores, papais noéis e mais um ano terá acabado.

No entanto, não consigo entender o que faz as pessoas agirem dessa forma. Não temos renas, por aqui não neva e vestir-se de papai noel deve ser algo cruel nesse calor tropical. Só a estrela permanecerá novamente em Brasília, cavalgando a eterna confiança da miséria brasileira. Mas enfim, quem concorda com os símbolos dessa civilização ocidental capitalista judaico-cristã que aguente a parafernália. Eu prefiro passar ao largo disso tudo. Exceto por um aspecto... Assumo que adoro uma brincadeira que faço com meu caçula. Competimos na contagem das luzinhas de Natal. Ficamos os dois na janela vendo quem encontra mais delas...Nossas risadas são fartas e por mais que eu me esforce ele sempre ganha...

Ainda na janela, olhando as luzes paulistanas acendendo, pensando nessas coisas, lembrei como o ano de 2006 foi conturbado. Mas, em meio a essas dificuldades algumas coisas boas aconteceram. Uma delas foi o fato de ter reencontrado o homem que amo e de como tenho aprendido com ele : a abrir-me e a confiar de novo em um homem. Pensando nisso sorrio tranquila permitindo-me novamente ser feliz.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Enquanto isso...


Era uma situação inquietante. Eu ainda estava casada e morava em Japaratinga. Um lugar lindo, uma aldeia de pescadores. Nossa casa era quase na praia. Numa noite em específico o vento zunia pelo telhado e ninguém se atrevia a sair de casa. De nenhuma casa, aliás. Depois soubemos que ele passou por lá a uns 90 km por hora. Abri a meia porta da frente para, protegida, ver como estava tudo. Céu escuro, os coqueiros se esforçavam para não serem levados pelo vento em fúria. Só ouvíamos os barulhos e havia muita areia no ar. Pensei no mar...

Quando adolescente tinha um sonho recorrente, onde apesar de não conhecer as pessoas, transitava por todas elas com familiaridade. O sonho se desenrolava no litoral, nele, eu sabia que deveria subir, ir ao lugar mais alto que conseguisse, levar quem pudesse convencer. Poucos me acompanhavam. Afinal o mar estava calmo, as pessoas nadavam tranquilas, brincavam felizes... Somente eu tinha a sensação de que aquele quadro bonito de tarde ensolarada fosse mudar. E mudou. Sempre mudava, por mais que eu tentasse alterar meu sonho. De repente, o mar recuava e eu, lá do alto, via as ondas virem. Enormes, velozes, levando todos na praia. Eu sentia uma grande agonia e acordava assustada. Sonhava isso várias vezes por semana.

Pensando no mar, naquela noite em Japara, com a tormenta passando, lembrei desses meus sonhos e se isso poderia acontecer alí. Lembro imaginar o mar, nossa casa, e analisando a situação percebi que, se o mar estivesse assim revolto, nada teríamos para fazer. Fechei a meia porta, voltei, sentei e permaneci calmamente conversando com as pessoas que eu hospedava naqueles dias de festas natalinas. Quando o vento amainou decidimos dormir. Eu deveria ter uns 24 anos mais ou menos, nessa época.

Hoje, passados vinte anos, sinto-me olhando a tormenta passando e tranquilizo-me em saber que em algumas situações nada temos a fazer, afinal não há qualquer forma de barrar o vento em fúria. Apenas posso, calmamente, permanecer conversando com as pessoas que compartilho minha hospedagem.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Torpor...


Você tenta ser o que não é...Conheço seu silêncio, sei o porquê de tratar com banalidade nossa última conversa. Já vi essas cenas, mas você disse que isso não voltaria a acontecer e eu acreditei.

Sua escolha lhe entristeceu essa semana. Sinto muito se ela começou a partir.
Não tenho qualquer responsabilidade sobre vocês. Nunca tive.

Sempre acreditei em você, mesmo quando mentia para mim. Na época não sabia serem mentiras o que dizia. Hoje sei. Hoje sei também que nosso tempo se extingue, apesar do esforço que fazemos em prolongá-lo... Nunca me esforcei tanto, e confesso estar com o corpo dolorido, as pernas cansadas, a cabeça em torpor...

Cada dia que passa duvido mais e vejo como me esconde, como não se interessa pelos meus e minhas coisas. Isso já não dói. Apenas me afasta e deixa as cores mais nítidas. Elas reluzem explodindo em avisos de auto-preservação que gritam, e as palavras ecoam...
Fico encimesmada e meu silêncio cresce, tomando conta de tudo. Não preciso disso. Ninguém precisa.

Tenho necessidade de trocar concepções, de compartilhar idéias e impressões. Sinto falta disso em nós.


Preciso respirar com meus próprios pulmões. Talvez precise mesmo ir. Ainda não sei...

sexta-feira, setembro 22, 2006

Sobrevoando.



Outro dia estava aqui pelo centro passeando, andando a toa, só para matar o tempo e pensar na vida. Estava lá na Vieira, perto do Largo. Gosto dessa rua, é arborizada, gostosa de andar. Então o vi. Na verdade foi ele quem me viu primeiro. Apenas o percebi porque notei alguém virando para trás depois que passei e isso me chamou atenção. Costumo andar solta, sem notar quem me olha ou conhecidos. Ando para mim, para meus pensamentos.

Seus olhos eram azuis e grandes. Muito bonitos. Os cabelos grisalhos na altura dos ombros. Tinha um olhar penetrante, daqueles que deixam claro que estão olhando. Seu olhar dizia querer conversar, seu corpo deu sinais de que viria ao meu encontro. Recuei, virei e continuei caminhando.

O senti relutante, entre me abordar ou seguir seu caminho. Sabíamos que nos veríamos de novo. Saquei isso instantaneamente, ele confiou nessa percepção. Continuou seu caminho, respirei aliviada. Aquela não era a hora.

Pensei nisso enquanto andava. Por que há pessoas que simplesmente sabemos que serão presentes? Tenho dessas coisas, costumava ignorar isso, hoje apenas confio no que sinto nessas ocasiões.

Fui até a República, vi uns quadros, as obras que separam as pessoas do pouco de verde que resta nessa cidade cinza. Resolvi voltar e sentar num banco do largo para observar as pessoas que passavam, sentindo o vento e ouvindo o barulho das árvores. Mentira. Senti vontade daquele olhar em mim novamente. Gostei do desafio implícito.

Desafios me movem, sempre me moveram. O óbvio e a normalidade me entediam. Talvez por isso viva minhas relações na mais absoluta contradição. Tenho uma aguçada percepção das pessoas e uma enorme dificuldade em confiar. Se já o vi mentindo para outro, esqueça. Saberei que essa será sua forma de agir comigo também. Nunca mais o verei com os mesmos olhos. Exceções confirmam a regra, pessoas mentem. Prefiro insistir na exaustiva verdade cotidiana. Pequenas reações desvendam pessoas. Sou como uma ave de rapina que sobrevoa entranhas. Deplorável.

Pensando nessas coisas recolhi minhas asas para sentar no banco e apreciar a paisagem. Estava tão entretida em meus pensamentos que já havia esquecido os olhos azuis. Sentia uma brisa refrescante naquela tarde cinza, mas quente. Olhei para cima e observei os galhos revestidos por pequenas folhas verdes, num contraste agradável. Sentia-me bem, mas era momento de ir trabalhar. Levantei-me e o vi sorrindo, observando-me de longe, sentado em outro banco. Retribui o sorriso e fui. Ainda não era a hora.

sexta-feira, setembro 15, 2006

De longe...


Hoje quase fumei. Se não fosse por um isso, o teria feito. Ao descer do ônibus, parei na banca de jornais. Tinha de fazer algo, não sabia o que. Senti o gosto do cigarro na boca, o cheiro, gostei do que imaginei. Pensei: "Vai me acalmar". Mas duas crianças compravam balas e conversavam com a vendedora, minha aflição impediu-me de fumar. Fui embora.

Já é noite, todos dormem
e permaneço com essa sensação de que tenho algo para fazer. Não tenho cigarros e navego a toa. Fico pensando...Percebo o que me incomoda: a impotência.

Seria capaz de correr o mundo, seria capaz de qualquer coisa para você não sofrer. Mas é inevitável. Você já está sofrendo por trás da sua roupa de heroína. Ela lhe cai bem. Quase ninguém percebe. Durante anos acreditei nela, noutros, a copiei. Hoje respeito-lhe. Sua roupa me é transparente e lhe vejo frágil. Sinto sua dor que se mistura à minha. Você não merecia. Não sei se alguém merece, pouco importa agora. Sei que você não.

Pela manhã, quando conversamos ao telefone, disfarçamos bem. Você de que era forte. Eu de que não tinha medo. Quando desligamos, chorei. O Pedro veio e me abraçou. Não dava mais para chorar. Fiz o que você me ensinou : sequei as lágrimas e segui com o que tinha de ser feito. A vida é assim, fazemos o que tem de ser. Simples. Tem horas em que não gosto de viver.

Queria ser menina para voltar ao tempo de estar no seu colo, protegida. Assim você também estaria bem. Acho. Só não poderia ser quem sou agora, porque não estaria no seu colo, mas em pé, assustada, vendo o mundo com olhos grandes. Fica tranquila, segredos não se contam. Pronto, cresci de novo.

Não sei se algo lhe afligia naquele tempo. Não saberia dizer das suas angústias, dúvidas, nem se as tinha.

Sei de hoje. Há um tempo me diz estar cansada, então, deite-se no meu colo, descanse, feche os olhos que eu cuido de você.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Liberdade!!!



Se o inferno existisse estaria cheio de bom mocismo e hipocrisia. Não há nada mais insuportável do que gente dissimulada, que forja situações, ou que prefira acreditar na aparência morna da mentira claustrofóbica das relações cotidianas.

Quanto a mim cansei de consentir, de ser paciente, de compreender.

Há cada dia meu tempo se extingue. Então não me peça explicações, não queira me envolver em medo ou insegurança. Estou livre, definitivamente livre e feliz! Muito feliz!! Atingi um momento da minha vida em que me permito. Estou plena de mim! O que sinto me liberta. Por isso não me estranhe, não me prenda, apenas caminhe ao meu lado e me acompanhe, se quiser.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Identificação.




Hoje estava a toa e fiquei lembrando de algumas coisas da minha adolescência. Situações sem nexo que eu e minhas amigas fazíamos, para ver mesmo até onde poderíamos ir, para testar nossos limites. Minha experiência com drogas compõe essa lista.

Numa dessas vezes, uma delas descolou uns patetas para gente. Era uma sexta ou um sábado, já não lembro bem. Sei que nos encontramos, tomamos os ACs e decidimos ir ao Cinesesc, lá na Augusta, estava tendo uma mostra boa. Sempre tinha por lá.

Para variar estávamos sem grana, até para a condução, carona era a solução encontrada. Pegamos uma até a Dr Arnaldo, morávamos todas na Lapa, eu, a Ré, a Má e a Marta. Descemos por lá porque o cara ia para outro canto e ficamos de dedão tentando a próxima. Nessas alturas já estava tudo ficando reluzente. Parou um fusca (Nossa!!Esse carro era comum para caramba), azul claro, a Ré conversou com o cara (rodiziávamos as tarefas, cada vez era uma de nós que perguntava o itinerário e combinava até onde iríamos). A Marta entrou, qdo fui entrar,encanei com o figura, comecei a rachar o bico. Essa é uma das reações, a risada vem de bobeira, não dá para segurar. A Ré, puta da vida, me mandou ficar quieta, segurei o riso e entramos todas. No caminho, a gente lembrava disso e ria. O moço todo arrumadinho, cabelo penteado, calça social, super gentil, querendo agradar aquele bando de doidas. Sacou que tinha algo diferente, porque já não falavamos nada com nada, foi paciente e ficou por isso.

Descemos na Augusta, agradecemos, nos desculpamos. Rolamos de rir. Literalmente curvávamos o corpo. Soltas, tresloucadas, donas do mundo. O ácido dá uma incrível sensação de poder, é como se tudo que quiséssemos fosse possível, o mundo todo fica ao alcance das mãos, qualquer coisa que de fato se queira. As horas voam, a noção de tempo se altera e tudo brilha. O cinema já havia fechado.
As horas tinham passado e não tínhamos percebido. Os pensamentos em turbilhão. O que fazer?

Decidimos encontrar outra amiga,na zona sul. Não parar era imperativo. Lá fomos nós. Não sei como chegamos, lembro de estarmos numa praça arborizada, bonita, com luzes amarelas, perto da casa dela. Estávamos sentadas todas, mais uns amigos comuns, batendo papo. Tinham umas figuras muito loucas, mais que nós. Um cara me propôs costurar uma linha, fiquei olhando para ele, imaginando a cena: nós dois sentados juntos em frente a uma máquina de costura antiga, tentando acertar a linha. Eu olhava para ele pensando nisso e ele dizia : - "Vem, vamos lá...quando quiser, tem muita, entendeu?" Apesar de sacar o que ele dizia, minha loucura estava num nível elevadíssimo, acima disso talvez ficasse para sempre. Sabia meus limites, sempre soube.

As meninas me chamaram era hora de zarpar. Madrugada alta.

Novo roteiro definido, dedos prontos, embarcamos em nova carona. Conversa agradável, saltamos num barzinho na Consolação, foi quando me vi. Pela primeira vez me vi numa fotografia pregada na parede desse bar aconchegante. Era a foto de um grande relâmpago. Ele cortava o céu escuro da noite, imprimia sua marca, mas era instantâneo, rápido, fugaz.Incapaz de manter sua fortaleza e luz. Nunca fui tão bem retratada. Uma fortaleza admirada e completamente inútil num processo.

A noite terminou e essa foto me retrata até hoje. Depois de tantos anos, mesmo com a cabeça limpa, continuo assim...Nunca aprendo nada, não sei nada, não sou nada. Apenas um relâmpago que descarrega a eletricidade do céu.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Tudo que é sólido desmancha no ar?


Algumas amizades acreditamos para a vida toda. Conhecer o outro é sempre um reaprender a sermos nós. Rever concepções naquilo que nos é questionado, repensá-las...Ver o outro colocando-se no lugar dele, ou simplesmente compartilhar momentos bons : de risadas à toa, de doideiras da noite, do cotidiano fatigante.
Tenho poucos e bons amigos. No entanto essa semana percebi que perdi uma pessoa importante para mim. Questionei-me muito sobre isso. Sobre até que ponto algumas rupturas não são como formas de pressão, algo quase como uma birra infantil. Ceder significa abrir mão do que sinto e sou. Permanecer assim dói a ausência.
Concluí que amizades , para serem de fato sinceras, tem de ser incondicionais. Caso contrário não passam de exercício de poder. Para isso não se precisa de amigos, o resto do mundo já exerce esse papel.
Então, desejo para você que se foi, uma amizade como a que lhe dedico: incondicional. Apenas para ser, certa da presença, do colo, do apoio, da solidariedade e nada mais...

terça-feira, agosto 01, 2006

Destroços.


Seria lugar comum falar sobre a violência nos dias de hoje. O que me nego a fazer é deixá-la pairando no ar, de forma genérica. Ela é construção humana feita para humanos. Tem classe social, métodos e objetivos. Para todos os lados que se olhe.
Há interesses de classe em Israel invadir o Líbano, na concordância do governo libanês a essa ação, no apoio dos EUA, da mesma forma que há no financiamento do Irã ao Hizbollah, da Síria (que tem as colinas de Golã ocupadas por Israel, inclusive).
As burguesias dos países árabes aliam-se quando convêm a um dos lados, ao longo do tempo.
Enquanto isso trabalhadores morrem. Centenas de milhares de pessoas têm suas vidas destroçadas, estão desabrigadas e formarão os mais novos indigentes da História. Já nem falo da repulsa que causa toda essa barbárie no massacre das 37 crianças. Morreram sem nem saber o que acontecia, nem chegarão a escolher o que fazer diante desses fatos.
O Brasil já pensa na possibilidade de compor uma missão no Líbano, espera apenas a ordem dos EUA, mascarada num possível cessar-fogo. Os jornais já cogitam essa possiblidade, através da troca dos dois soldados israelenses por prisioneiros do Hizbollah. A ONU faz o que seu dono mandar, como sempre foi e será. Chegamos ao ponto onde tudo começou e os trabalhadores libaneses transformam-se em peças descartáveis nesse jogo de poder. Essa é a lógica do capital, tenha ele a religião e a pátria que for...

quarta-feira, julho 26, 2006

Sobre aquele livro que li...

Quando acabo de ler um bom livro, permaneço alguns dias com as imagens suscitadas por ele na minha memória. Relembro locais, personagens, situações. Um alento pelo final da leitura, que adia o esquecimento do prazer provocado por ela. Conforme lia, caminhava pelas suas ruas e lugares, transportava-me para as situações narradas, vivia sentimentos. Fui ativamente cúmplice, mesmo que por poucas horas.
Por avaliar que a simbiose criada entre eu-leitora e coisa-lida torna-me uma apropriadora da história, afirmo, contraditoriamente, porque disse outra coisa noutro dia, que o amor deveria ser infinitamente vivido , daquele jeito que foi lá. Aos poucos, num gole de cada vez, em cada noite dormida. Quando for recíproco deve ser não-obrigatório, para ter espaço livre e ser apenas amor humano que- gela- a-espinha, desestruturando o já refeito desestruturado de novo. Com a certeza de existir e de mais nada. Um entregar sem muito porque de resistir...
Assim, hoje tenho permeando meus pensamentos uma Colômbia imaginária, povoada pela beleza de um amor entre um escritor ancião e uma adolescente...

segunda-feira, julho 17, 2006

Subsolo



Se a dor nos faz amadurecer e aprender, prefiro ser infantil e burra. A mediocridade é o termômetro da humanidade, de qualquer forma...Isso não muda, nunca. Não sei jogar, não sei competir. Só sei ser quem sou, contraditória, do avesso, com as vísceras quase expostas ao Sol. O amor não conhece opções, apenas é. Eu quero livrar-me desse "é". Prefiro minha concha confortável, para ver de longe. Se isso é próximo da morte? Que o seja, então. Que venha com força definitiva e me liberte, para que possa dançar livre, solta, comigo mesma...Comigo, seja eu quem for. Seja como for...Seja. Quero libertar-me, quero mentiras amenas e um pouco de sexo quando sentir tesão. Só isso. Para quem ainda estiver nesse jogo, vai me desculpando a ausência e antes da luz apagar pegue minha toalha no chão...

quarta-feira, julho 12, 2006

Ahhhh essa pequena-burguesia...

Dei um azar enorme no meu dia. Sabe daqueles em que nada dá certo? Havia planejado passar a tarde na mostra de cinema latino-americano, que vai até domingo, tirar o resto da noite para rever amigos e relaxar. Mas diante da minha total falta de sincronia com o relógio, perdi a oportunidade de ver os filmes que havia selecionado.
Para não perder completamente o dia, decidi dar umas voltas aqui pelo centro, pagar umas contas atrasadas, convidei o caçula...Lá na Vieira achamos uma livraria nova, não deu outra, entramos para dar uma olhadinha. Caso não fossem os livros plastificados, o cheiro da coisa sendo feita amadoramente (a loja recendia a plástico derretido) e o ranço pequeno-burguês que povoa o ambiente, poderia ser legal. Infelizmente demos o azar de nos deparar com esse setor medíocre e preconceituoso. Pseudo-intelectuais, num espaço pretensamente produtor de cultura. Imagine-me, tênis furado (tá bom, já comprei novos), bolsa com a alça cruzada, cara de duranga, olhando os exemplares! Avalie se fui bem-vinda.

Mesmo assim, como meu caçula queria muito um livro novo do Neil Gaimam, compramos. Não curti o lugar. Gosto de livrarias inteligentes, onde pode-se folhear os livros, sentada em cadeiras confortáveis e decidir por vários, se o dinheiro der, claro. Essa coisa plastificada, rançosa, amadora e discriminatória, definitivamente está fora do meu cardápio!

segunda-feira, julho 10, 2006

Revelar


Hoje Sampa esteve mais cinza que de costume. Os poucos carros que ora circulam, cruzam as ruas com aquele barulhinho gostoso de pneu riscando o asfalto molhado. Esse som me transporta à infância. Quando chovia, passava as tardes vendo da janela do quarto dos meus pais, as gotas inundando o chão. Cada pedacinho dele era tomado com grande velocidade. Era uma brincadeira adivinhar onde seria a próxima a cair. As pessoas corriam a se proteger, rostos amigos. O cheiro de terra invadia o ar. Eu-menina via a tudo quietinha, observadora, olhando com dificuldade a rua, nas pontas dos pés. Sentia-me segura, protegida e permitia-me ser levada pelas sensações, odores e rostos imaginando onde iriam e como estariam nos locais em que chegassem. Gosto de chuvas assim. Trazem boas lembranças...
Nessa madrugada, chuvosa e acolhedora, relembro nosso "encontro" e imagino-o, em seu final de tarde, metido em seu blazer branco, com seus cachinhos lindos, nesse olhar sincero de sorriso maroto, insinuando delícias pensadas...Não sou mais menina e já não há brincadeira de gotas preenchendo o chão, mas confesso confiar nesse olhar, como naquelas tardes de chuva, e nos imagino desmanchando o laço e abrindo a minha-agora-também-sua caixa de bombons...

terça-feira, julho 04, 2006

Viver?

Algumas noites são mais sombrias que outras. Faltam nelas esperança e credibilidade. Essa é fruto de um dia particularmente ruim, como o de hoje. Problemas no trabalho, ambiente onde a mediocridade tem insistido em permanecer. Já não sei quem é príncipe nem sapo, a surpresa virou lugar comum, e nem em contos de fadas acredito. Humanos são cansativos, dão trabalho e decepcionam. Não quero lembrar que sou humana (parafraseando o poeta), quero apenas alento, num canto onde possa ver, ouvir, observar. Segura. Num mundo outro, onde-não-sei-qual. Mas a TV me trás de volta, com a velha ladainha comercial. Poderia desligá-la e libertá-la da programação. Dar-lhe descanso, silêncio e paz. Poderia desligar-me e libertar-me da minha programação, da alheia, da comum, do senso-comum, do que assola e isola. Mas sei que quando parar de escrever irei dormir e amanhecer e num moto contínuo, viver.

segunda-feira, julho 03, 2006

Enquanto isso...

Recebi um texto por e-mail, de um amigo virtual, falando acerca das relações amorosas a partir desse milênio. Discorria sobre os papéis sociais e de como homens e mulheres deveriam se livrar das dependências que desenvolvem nas relações. Gostei do texto porque ele investe na necessidade de construirmos nossas identidades individuais (afinal nem sei mais o que é coletivo e o que é loucura). De que apenas pessoas inteiras viveriam relacionamentos saudáveis e a convivência com a solidão nos daria dignidade, por termos de conviver conosco e vermos no outro apenas"um companheiro de viagem".
Num dado momento o autor, provavelmente libanês, diz : "
Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e do respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...". Foi nesse momento da minha leitura que percebi o quanto ainda tenho de aprender a me perdoar. Sei que desenvolvi um medo enorme das relações e talvez por isso sempre as aborte. Cada vez com uma justificativa diferente...
Essa reflexão, até então intangível, me faz ver que essa culpa pesando sobre meus ombros não é minha. Ela foi nossa, num plural distante no tempo/espaço. E nesse momento-agora não é, ainda sendo, na medida que passou turvando minha visão. Talvez este tenha sido apenas um exercício inicial para "curar-me". Isso é muito provável. No entanto, algo posso afirmar com certeza : A de que o mundo virtual pode trazer gratas surpresas. A amizade é uma delas. Obrigada, amigo- menino-homem. Esse texto é para você!

segunda-feira, junho 26, 2006

Cumplicidade

Chego em casa e não encontro ninguém, apenas minha gata vem ao meu encontro. Deixo a penumbra cobrir-me e ouço o final da tarde. Domingos são sempre silenciosos. Os carros do Minhocão cedem lugar às pessoas: uns caminham, outros namoram, crianças correm libertas dos apartamentos e do caos urbano. Confesso que já tentei livrar-me dele, mas sua química combina com a minha. Parece um vício o qual não consigo libertar-me. Nem tento mais. Deito em seu colo e nele ganho vida. Esse caos me acolhe, nele sinto-me em casa. Essa contradição urbana me saúda há muitos anos e compõe meu DNA.
Caminho até a janela e imagino diálogos adivinhando pessoas. Amplio minha visão e vejo São Paulo. Ela me olha de volta piscando com cumplicidade. Sorrio em paz. Mais um dia se foi...

segunda-feira, junho 19, 2006

Campeonato de bolinha de gude!


Como época de copa do mundo é boa!! Todas as mazelas somem. Os problemas diminuem, o salário já não é tão ruim, os preços ,ah, compra um mais baratinho, vai. Se não der a gente toca assim mesmo. Paramos tudo: Lojas, bancos, armazéns, repartições públicas, supermercados. Então, fiquei pensando numa coisa boa para se fazer nesses dias assim , tão felizes. Quando temos forças para parar.
Mas antes preciso dizer que nossa felicidade ainda é maior porque sabemos que afinal os juros dos bancos não abaixaram, nossa dívida externa está sendo paga com nossos salários de fome, a saúde pública está de vento em popa (vento levando a população miserável a amargar nas filas de espera. Por que são muitas, você sabe disso : uma para fazer a ficha, outra para esperar a triagem, outra para "passar" no médico e depois de todas estas, a derradeira : para pegar o comprovante de que você esteve lá, porque patrão sempre acredita na gente,claro!), sem contar o desemprego e o tal do fechamento dos postos de trabalho, cada vez mais presente em dias de terceirizações galopantes. É o país fulgurante na reestruturação produtiva. E daí que a Wolks está demitindo centenas de trabalhadores? O Brasil deu de dois a zero (DOIS!) na Austrália.
Pois é, vendo toda essa felicidade nesses meus dias descrentes de tudo, pensei que dessa vez iria dar certo. Olha, para ser muito sincera até tentei. Olhei os jornais, li reportagens, vi calendários e até ensaiei avaliações e prognósticos. Mas não dá. Definitivamente essa orgia de bandeiras, fogos, e nacionalismo tupiniquim me cansaram sem me convencer.
Como tudo permanece no mais absoluto controle e é provável ficar esse ufanismo até perto das propagandas eleitorais, onde o índice de merda no ventilador deve subir (aliás, elas já começaram), foi aí que tive a idéia.

Já que tudo fechará mesmo e que dessa vez pode dar certo, a CUT (essa combativa central do Lula) poderia definir que em dias de jogos do Brasil haveria greve geral. Imagine nos jornais internacionais como a coisa iria aparecer!! CUT decreta:Greve geral no país penta campeão!! Nossa! Duas coisas ao mesmo tempo: Nossa lendária capacidade futebolística e a discordância com esses dias tão difíceis. E para arrematar, em sinal de forte protesto, iríamos todos jogar partidas de bolinhas de gude na avenida São João!! Ela estará vazia de qualquer forma... Abertas as inscrições!!

sexta-feira, junho 09, 2006

Uma tradução...

" Equilíbrio perigoso, o meu, perigo de morte de alma. A noite de hoje me olha com entorpecimento, azinhavre e visgo. Quero dentro dessa noite que é mais longe que a vida, quero, dentro dessa noite, vida
 crua e sangrenta e cheia de saliva. Quero a seguinte palavra: esplendidez, esplendidez é a fruta na sua suculência, fruta sem tristeza. Quero lonjuras. Minha selvagem intuição de mim mesma. Mas o meu principal está sempre escondido. Sou implícita. E quando vou me explicitar perco a úmida intimidade." Clarice Lispector

sábado, junho 03, 2006

Amor? Amar...


Hoje anoiteceu friamente em São Paulo, deixando a cidade aquecida pelos casacos, blusas de lã e afins.
Aproveitei minha necessidade de calor para por em prática uma recém descoberta receita de biscoitos de meu filho caçula. Aliás, ouvi a respeito dela durante toda a semana e fazê-la me confortaria duplamente. Pré adolescentes espantam qualquer frio. Animados, fomos comprar os ingredientes. Caminhamos entre o corre-corre de final de expediente de uma sexta-feira que me convidava a sentar numa mesa de bar. Resisti e fomos em frente.
Farinhas, cortadores de massa, ovos, belo olhar masculino cruzando as compras, leite...Repassamos os ingredientes e utensílios e voltamos carregados. Que falta fazem os carros nessas horas!
Chegamos cansados, mas permeados pela necessidade de realização da tarefa: vasilha, mistura de ingredientes e mãos, conversas, risadas, nossa gatinha atenta ao processo, massa recortada por peixe, tartaruga, borboleta, árvore e pela deliciosa brincadeira desse convívio caseiro. Biscoitos no forno, pia cheia de louça. Ele verifica o ponto do nosso assado e a língua estala de vontade. Cheiro e gosto aquecendo a noite.
A tranquilidade ocupa os espaços da casa e confirma a crença de que o amor embeleza a vida e alenta os dias. Amor? Hoje sei, porque amanhã é outro dia, que sempre amar...

domingo, maio 21, 2006

Coisas


Tem coisas que são complexas, difíceis de entender...Com certeza viver é uma delas. Coisinha complicada essa. Talvez seja por causa dessa minha maldita mania de pensar. Tem gente que não faz isso e me parece mais feliz. Não sei. Não tenho essa opção.
Outra hora estava conversando com um amigo, desses que a gente faz força para não perder, porque são importantes e pensam também, e lá pelas tantas esbarramos na questão do respeito. Ele o definiu ser " como uma lata de tinta. Você usa para cobrir de respeito algo, depois a lata seca. O que você pintou continua lá, até que a tinta descasque." Gostei dessa definição, achei bonita, sincera e dolorida. Ela me incomodou muito. Se respeito for isso, qual seria minha cota? a teria usado toda? Quando a tinta descascar de que forma vou perceber as pessoas as quais pintei? Respostas que não sei.
Olhei em volta e automaticamente fiquei pensando no que acho desse lance e só consegui constatar minha ingenuidade em permanecer respeitando, ao longo da minha vida , quem eu admiro de alguma forma. Sem cotas nem quantias.
Essa conversa me fez lembrar das pessoas que um dia respeitei e não o faço mais. Avaliei que essa mudança não tinha a ver com minha capacidade de respeito, assim no abstrato, mas com minha relação com tais pessoas. Com perceber nelas pequenas janelas de comportamentos e de formas de pensar o mundo que desconhecia, e que discordei. Quando essas janelas foram crescendo e tornando-se insuportáveis, aconteceu.
Óbvio que tem muita gente que nem perco meu tempo, aliás acho de um humanismo capenga quando dizem "que respeitam alguém por ser humano". Isso nunca me convenceu...
E não vai ser agora. Afinal, nem todo mundo é mesmo humano. Algumas pessoas vestem as roupas e passam o verniz, no entanto, o cheiro fétido permanece.
Apesar disso sou obrigada a assumir que
talvez tenha uma "cota" de respeito muito grande para gastar em gente que ainda vale a pena.

quinta-feira, maio 18, 2006

Maldita insônia...


Ouço os camburões rasgando as ruas lá embaixo e o sono não vem. Passam dois, seguidos. Mais tarde um carro de bombeiros, um resgate...o desfile continua.
A repressão, na passarela, tem diferentes cores, sons, tamanhos, mas o propósito é o mesmo : Matar.
Diante da lição de organização ( e de barbárie que podemos atingir) que o PCC demonstrou, fica difícil ouvir as vozes destoantes. Quantas vezes ouvimos, segunda-feira, que o exército deveria estar nas ruas de São Paulo? Várias : Na TV, no rádio, nas entrevistas dos jornais, no homem comum das ruas.
Dizer que os investimentos em políticas públicas diminuíram, que tem menos dinheiro para educação, que faltam hospitais, casas decentes, empregos, remédios nos postos de saúde, que a cada 10 ricos, seis moram no estado de SP, que a concentração de renda é absurda e que isso entrega de bandeja nossa juventude ao PCC, não é o suficiente. Agora querem também privatizar nossa dignidade, vendê-la sem a menor circunstância. E assistimos a tudo atônitos. Não temos organização suficiente para barrar tudo isso. Fomos incapazes de construí-la. E o número de mortos aumenta a cada noite de contabilização. É a eficência do revés, da coisa torta, da vergonha.
Hoje é apenas o sexto dia desse carnaval fora de época, da micareta do imperialismo, que drena nossas vidas e a tudo destrói.
Você consegue dormir com esse barulho??

domingo, maio 14, 2006

Alucinações noturnas!


Alguém já viu uma borracha acabar? Fato raro. Nos meus 44 anos de vida nunca vi ou ouvi alguém dizer que sua borracha havia acabado.
É um objeto que se perde. Borrachas rolam pela mesa e pulam no chão. Saltam lepidamente, fagueiras. Talvez estejam em incessante juventude, em constante agitação ou ainda precisem de liberdade.
LIBERDADE: conceito caro à humanidade. Ninguém é verdadeiramente livre. Construímos, inevitavelmente, amarras nas relações que estabelecemos ao longo da vida : No trabalho, com amigos, em família, nos amores, na política. Fora aquelas que nem tivemos responsabilidade em construir, que vieram prontas.
Algumas vezes caminhamos uma vida toda elaborando meticulosamente princípios, derrubando lugares-comuns, alicerçando avaliações e quando percebemos estamos irremediavelmente presos. Sem saída. Presos àquilo que acreditamos ser ferramenta de libertação. Erro tático em busca da estratégia principal : a da Vida. O que fazer?
Nessas horas um café fumegante numa poltrona confortável é um alento! Como não tenho poltronas, faço um café e procuro borrachas pelo chão , quem sabe elas me ajudem...

sexta-feira, maio 05, 2006

As pessoas do lugar...

Estavam passando por um período bastante difícil, havia muita fome. No entanto, em alguns dias, o monstro Minustah, permitia, em sua imensa bondade, que elas pudessem comer. Quando isso acontecia, colocava seus fiéis soldados- que ganhavam muito bem, aliás- para fazer a distribuição dos pães. A fila era imensa, a paciência das pessoas limitada pela fome e a humilhação enorme...Mas, o monstro, do alto da sua benevolência, achava tudo isso muito normal, era a sua face "caridosa" e isso o permitia perder algumas missas de domingo, daqueles em que ele não tinha de fazer seus comícios e discursos camaradas para todos os companheiros de mensalão. Mesmo porque sua cabeça-monstro era muitas vezes substituída por seus generais-suicidas e em algumas outras vezes pelo seu pai, que daqui em diante chamaremos de "Monstro-pai-You are ok", com seu indefectível chapéu de cowboy.

As crianças do lugar...


Apesar do Minustah, da vida difícil, da falta de vacina, do analfabetismo, conseguiam sorrir, e tinham sorrisos lindos por que entendiam que a vida valia à pena, ainda. Não eram como os pais do monstro que mandavam no mundo, atrás de lucros e queriam que todos os obedecessem. Aliás, o pai dele vivia com um chapéu de cowboy, tinha um sorriso cínico de doer os olhos e os olhos azuis de varrer o mar. A mãe não: Seu sotaque era estranho- puxava os "erres", vivia admirando seus longos cabelos loiros no espelho, enquanto tragava longamente sua piteira metida em suas meias arrastão.
Dizem as más línguas que o pai do monstro tinha uma mulher para cada filho-monstro, de cada lugar do mundo (fora esse da nossa história) que ele dominava: inglesas, israelenses, iraquianas... A escolha dele dependia dos interesses econômicos, os quais ele chamava de democracia. Coisas de pai de monstro...

quinta-feira, maio 04, 2006

História Infantil : "Quantas são as periferias do mundo?"

Era uma vez um lugar distante da América Latina colonizado por um país europeu... Os ancestrais das pessoas que hoje moram nesse país, há muitos anos atrás, foram para lá levadas pela força da escravidão. Idéia inicial de um padre para poupar as populações indígenas locais, que logo foi apoiada por uns e depois por outros dos tais europeus...
Houve um dia, em que elas, cansadas dos longos anos de exploração, se levantaram e deram um basta nessa situaçao. Formaram um país livre.
Passaram-se os anos e novos algozes surgiram, junto com a miséria da imensa maioria, o analfabetismo e o desemprego. Alguns lucravam muito com essa situação apesar das tentativas de mudanças ...
Nos últimos anos esse país, muito parecido com o nosso (aliás você saberia me dizer de onde é essa foto: Rio, São Paulo, ou de alguma cidade do Nordeste??), de novo tenta se livrar de um monstro que o domina. Esse monstro se chama Minustah e muito sofrimento e dor tem provocado nas pessoas que insistem em ser felizes por lá. Mas ele tem apoio do Rei que manda naquelas bandas, eleito recentemente...

Largada

Esse blog nasce com o objetivo de ser um espaço de expressão : das lembranças, das dúvidas, das viagens, das observações da vida, de abstrações... Um registro que traduz uma forma de ser e de dizer, sem pretensões...apenas um vômito contemporâneo, numa linda tarde ensolarada de domingo...