domingo, novembro 26, 2006

Silêncio


São Paulo está úmida e silenciosa hoje. Os carros e as pessoas quase não circulam. Só o vento e o vazio percorrem as ruas. É comum todos se recolherem aos domingos. Dia morno, independente da temperatura, que antecede o inadiável das segundas.

Gostaria de ter o vento a me preencher nessa noite vazia. Ando rasa de convicções e minhas angústias se ampliam. Já não sinto a confiança que as crenças trazem. Como será caminhar daqui para frente?

Quero minhas antigas e confortáveis convicções, mas apenas meus princípios insistem em me acompanhar. Inúteis. Minhas experiências são responsáveis pelo meu estado atual. Não adianta gritar, nem deixar de ler jornais. Aliás faz dois meses que deixei de pagá-los, o dinheiro não sobra e vão-me cortá-los. Dane-se, tenho mesmo a voz rouca, cansada e não sei quais palavras usar. Vozes assim, vazias, não encontram eco. Pelo contrário, dissipam-se, confundem-se com os milhares de gritos ocos, urbanos, contemporâneos.

Talvez eu consiga ser normal, finalmente. Adaptável e submissa. Vou estancar meus pensamentos para ver se consigo. Tenho de fechar os olhos, para não ver. Fecho. Ainda penso. Tampo, então, meus ouvidos. Continuo a pensar. Pior. Minha atenção se aguça e vejo-me melhor. Retratinho deplorável esse.

Melhor livrar-me dele ou disfarçá-lo. Pintá-lo com cores que me escondam. Melhor mesmo seria meu silêncio. Ahhhhh, essa voz rouca que insiste em sair...

Hoje, mais que em outros dias, quero deixar de tentar. Meus esforços são sempre vãos e erro mesmo quando não quero, com quem tenta me ajudar. Alguém gosta de errar? Desculpe, você só quis deixar-me feliz e eu o suguei. Conectei minhas ventosas fétidas nas suas informações. Tenho uma vontade ilimitada de ontem, de ante-ontem, de amanhã e de depois de amanhã. Não ligue. Apenas não tente de novo, assim não machuco você.

Madrugada alta. Todos dormem. São Paulo nunca dorme...Que alívio sabê-la assim. Ouvinte silenciosa das minhas mazelas humanas. Segure o esgar, porque sua inocência inexiste, cidade cinza que hoje anoiteceu silenciosa e úmida...Úmida. Uma. Minha. Toda.

segunda-feira, novembro 06, 2006

K.

Considero escrever muito difícil. No entanto, minha necessidade de expressão extrapola o bom-senso e arrisco-me, como sempre, aliás. Embora acabe atrapalhando-me no processo e apareçam os imprevistos, vou em frente. Claro que conto com "incentivadores", amigos que conseguem fazer com que não desista. Dentre esses incentivadores há um que foi o responsável por eu tentar escrever e fazer esses limitados exercícios por esse blog. Por isso, se alguém for criticar-me que se dirija a ele... Brincadeiras à parte, quando disse acerca da minha necessidade de escrever e de como sou débil para tal, foi ele quem me incentivou. Falou-me do blogger e como deveria manter tudo que fizesse, a fim de ir melhorando a cada erro cometido. É o processo que ele usa para desenhar, e se houvesse qualquer forma de comparação entre essas "formas de expressão" eu estaria anos luz aquém da qualidade do trabalho dele. O cara é fera, de fato. Infelizmente não sou uma boa aluna, e apesar da minha forma torta de escrever quero hoje fazer uma homenagem a Ele. Uma pessoa, para lá de especial, que também compartilho minha vida (Sorte minha, azar dele. Já o preveni sobre isso também e , ufa, ele desconsiderou meu aviso!!) e que hoje aniversaria. Desejar a ele plena felicidade seria redundância. Isso quero sempre. Só posso então, da forma mais sincera possível, dizer-lhe do meu amor, de que tudo que eu puder fazer para ver-lhe bem, o farei. Penso que ele já tenha percebido isso.Espero que sim. Então, vou mandar um recado mais direto : Saiba que permanecer ao seu lado é feito um presente acompanhado de reaprender, de ensinar, de doar, de receber, de liberdade, de tesão, e de que viver me surpreende e vale a pena!! Grande beijo!

sexta-feira, novembro 03, 2006

Confiar


Estava quente, a chuva incessante havia deixado o dia abafado. São Paulo estava insuportável. O concreto reteve o calor e os prédios dificultavam a circulação do ar. Fim de tarde comum num quase verão oficial.

Molhei o rosto e deixei-o secar sozinho para ver se essa coisa toda melhorava. Voltei à janela, onde havia permanecido grande parte da tarde, e agora olhava as luzes que iam aparecendo. Daqui alguns dias as de Natal se farão presentes, brilhando em formatos de estrelas, renas, árvores, papais noéis e mais um ano terá acabado.

No entanto, não consigo entender o que faz as pessoas agirem dessa forma. Não temos renas, por aqui não neva e vestir-se de papai noel deve ser algo cruel nesse calor tropical. Só a estrela permanecerá novamente em Brasília, cavalgando a eterna confiança da miséria brasileira. Mas enfim, quem concorda com os símbolos dessa civilização ocidental capitalista judaico-cristã que aguente a parafernália. Eu prefiro passar ao largo disso tudo. Exceto por um aspecto... Assumo que adoro uma brincadeira que faço com meu caçula. Competimos na contagem das luzinhas de Natal. Ficamos os dois na janela vendo quem encontra mais delas...Nossas risadas são fartas e por mais que eu me esforce ele sempre ganha...

Ainda na janela, olhando as luzes paulistanas acendendo, pensando nessas coisas, lembrei como o ano de 2006 foi conturbado. Mas, em meio a essas dificuldades algumas coisas boas aconteceram. Uma delas foi o fato de ter reencontrado o homem que amo e de como tenho aprendido com ele : a abrir-me e a confiar de novo em um homem. Pensando nisso sorrio tranquila permitindo-me novamente ser feliz.