quarta-feira, agosto 23, 2006

Liberdade!!!



Se o inferno existisse estaria cheio de bom mocismo e hipocrisia. Não há nada mais insuportável do que gente dissimulada, que forja situações, ou que prefira acreditar na aparência morna da mentira claustrofóbica das relações cotidianas.

Quanto a mim cansei de consentir, de ser paciente, de compreender.

Há cada dia meu tempo se extingue. Então não me peça explicações, não queira me envolver em medo ou insegurança. Estou livre, definitivamente livre e feliz! Muito feliz!! Atingi um momento da minha vida em que me permito. Estou plena de mim! O que sinto me liberta. Por isso não me estranhe, não me prenda, apenas caminhe ao meu lado e me acompanhe, se quiser.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Identificação.




Hoje estava a toa e fiquei lembrando de algumas coisas da minha adolescência. Situações sem nexo que eu e minhas amigas fazíamos, para ver mesmo até onde poderíamos ir, para testar nossos limites. Minha experiência com drogas compõe essa lista.

Numa dessas vezes, uma delas descolou uns patetas para gente. Era uma sexta ou um sábado, já não lembro bem. Sei que nos encontramos, tomamos os ACs e decidimos ir ao Cinesesc, lá na Augusta, estava tendo uma mostra boa. Sempre tinha por lá.

Para variar estávamos sem grana, até para a condução, carona era a solução encontrada. Pegamos uma até a Dr Arnaldo, morávamos todas na Lapa, eu, a Ré, a Má e a Marta. Descemos por lá porque o cara ia para outro canto e ficamos de dedão tentando a próxima. Nessas alturas já estava tudo ficando reluzente. Parou um fusca (Nossa!!Esse carro era comum para caramba), azul claro, a Ré conversou com o cara (rodiziávamos as tarefas, cada vez era uma de nós que perguntava o itinerário e combinava até onde iríamos). A Marta entrou, qdo fui entrar,encanei com o figura, comecei a rachar o bico. Essa é uma das reações, a risada vem de bobeira, não dá para segurar. A Ré, puta da vida, me mandou ficar quieta, segurei o riso e entramos todas. No caminho, a gente lembrava disso e ria. O moço todo arrumadinho, cabelo penteado, calça social, super gentil, querendo agradar aquele bando de doidas. Sacou que tinha algo diferente, porque já não falavamos nada com nada, foi paciente e ficou por isso.

Descemos na Augusta, agradecemos, nos desculpamos. Rolamos de rir. Literalmente curvávamos o corpo. Soltas, tresloucadas, donas do mundo. O ácido dá uma incrível sensação de poder, é como se tudo que quiséssemos fosse possível, o mundo todo fica ao alcance das mãos, qualquer coisa que de fato se queira. As horas voam, a noção de tempo se altera e tudo brilha. O cinema já havia fechado.
As horas tinham passado e não tínhamos percebido. Os pensamentos em turbilhão. O que fazer?

Decidimos encontrar outra amiga,na zona sul. Não parar era imperativo. Lá fomos nós. Não sei como chegamos, lembro de estarmos numa praça arborizada, bonita, com luzes amarelas, perto da casa dela. Estávamos sentadas todas, mais uns amigos comuns, batendo papo. Tinham umas figuras muito loucas, mais que nós. Um cara me propôs costurar uma linha, fiquei olhando para ele, imaginando a cena: nós dois sentados juntos em frente a uma máquina de costura antiga, tentando acertar a linha. Eu olhava para ele pensando nisso e ele dizia : - "Vem, vamos lá...quando quiser, tem muita, entendeu?" Apesar de sacar o que ele dizia, minha loucura estava num nível elevadíssimo, acima disso talvez ficasse para sempre. Sabia meus limites, sempre soube.

As meninas me chamaram era hora de zarpar. Madrugada alta.

Novo roteiro definido, dedos prontos, embarcamos em nova carona. Conversa agradável, saltamos num barzinho na Consolação, foi quando me vi. Pela primeira vez me vi numa fotografia pregada na parede desse bar aconchegante. Era a foto de um grande relâmpago. Ele cortava o céu escuro da noite, imprimia sua marca, mas era instantâneo, rápido, fugaz.Incapaz de manter sua fortaleza e luz. Nunca fui tão bem retratada. Uma fortaleza admirada e completamente inútil num processo.

A noite terminou e essa foto me retrata até hoje. Depois de tantos anos, mesmo com a cabeça limpa, continuo assim...Nunca aprendo nada, não sei nada, não sou nada. Apenas um relâmpago que descarrega a eletricidade do céu.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Tudo que é sólido desmancha no ar?


Algumas amizades acreditamos para a vida toda. Conhecer o outro é sempre um reaprender a sermos nós. Rever concepções naquilo que nos é questionado, repensá-las...Ver o outro colocando-se no lugar dele, ou simplesmente compartilhar momentos bons : de risadas à toa, de doideiras da noite, do cotidiano fatigante.
Tenho poucos e bons amigos. No entanto essa semana percebi que perdi uma pessoa importante para mim. Questionei-me muito sobre isso. Sobre até que ponto algumas rupturas não são como formas de pressão, algo quase como uma birra infantil. Ceder significa abrir mão do que sinto e sou. Permanecer assim dói a ausência.
Concluí que amizades , para serem de fato sinceras, tem de ser incondicionais. Caso contrário não passam de exercício de poder. Para isso não se precisa de amigos, o resto do mundo já exerce esse papel.
Então, desejo para você que se foi, uma amizade como a que lhe dedico: incondicional. Apenas para ser, certa da presença, do colo, do apoio, da solidariedade e nada mais...

terça-feira, agosto 01, 2006

Destroços.


Seria lugar comum falar sobre a violência nos dias de hoje. O que me nego a fazer é deixá-la pairando no ar, de forma genérica. Ela é construção humana feita para humanos. Tem classe social, métodos e objetivos. Para todos os lados que se olhe.
Há interesses de classe em Israel invadir o Líbano, na concordância do governo libanês a essa ação, no apoio dos EUA, da mesma forma que há no financiamento do Irã ao Hizbollah, da Síria (que tem as colinas de Golã ocupadas por Israel, inclusive).
As burguesias dos países árabes aliam-se quando convêm a um dos lados, ao longo do tempo.
Enquanto isso trabalhadores morrem. Centenas de milhares de pessoas têm suas vidas destroçadas, estão desabrigadas e formarão os mais novos indigentes da História. Já nem falo da repulsa que causa toda essa barbárie no massacre das 37 crianças. Morreram sem nem saber o que acontecia, nem chegarão a escolher o que fazer diante desses fatos.
O Brasil já pensa na possibilidade de compor uma missão no Líbano, espera apenas a ordem dos EUA, mascarada num possível cessar-fogo. Os jornais já cogitam essa possiblidade, através da troca dos dois soldados israelenses por prisioneiros do Hizbollah. A ONU faz o que seu dono mandar, como sempre foi e será. Chegamos ao ponto onde tudo começou e os trabalhadores libaneses transformam-se em peças descartáveis nesse jogo de poder. Essa é a lógica do capital, tenha ele a religião e a pátria que for...