quarta-feira, julho 26, 2006

Sobre aquele livro que li...

Quando acabo de ler um bom livro, permaneço alguns dias com as imagens suscitadas por ele na minha memória. Relembro locais, personagens, situações. Um alento pelo final da leitura, que adia o esquecimento do prazer provocado por ela. Conforme lia, caminhava pelas suas ruas e lugares, transportava-me para as situações narradas, vivia sentimentos. Fui ativamente cúmplice, mesmo que por poucas horas.
Por avaliar que a simbiose criada entre eu-leitora e coisa-lida torna-me uma apropriadora da história, afirmo, contraditoriamente, porque disse outra coisa noutro dia, que o amor deveria ser infinitamente vivido , daquele jeito que foi lá. Aos poucos, num gole de cada vez, em cada noite dormida. Quando for recíproco deve ser não-obrigatório, para ter espaço livre e ser apenas amor humano que- gela- a-espinha, desestruturando o já refeito desestruturado de novo. Com a certeza de existir e de mais nada. Um entregar sem muito porque de resistir...
Assim, hoje tenho permeando meus pensamentos uma Colômbia imaginária, povoada pela beleza de um amor entre um escritor ancião e uma adolescente...

segunda-feira, julho 17, 2006

Subsolo



Se a dor nos faz amadurecer e aprender, prefiro ser infantil e burra. A mediocridade é o termômetro da humanidade, de qualquer forma...Isso não muda, nunca. Não sei jogar, não sei competir. Só sei ser quem sou, contraditória, do avesso, com as vísceras quase expostas ao Sol. O amor não conhece opções, apenas é. Eu quero livrar-me desse "é". Prefiro minha concha confortável, para ver de longe. Se isso é próximo da morte? Que o seja, então. Que venha com força definitiva e me liberte, para que possa dançar livre, solta, comigo mesma...Comigo, seja eu quem for. Seja como for...Seja. Quero libertar-me, quero mentiras amenas e um pouco de sexo quando sentir tesão. Só isso. Para quem ainda estiver nesse jogo, vai me desculpando a ausência e antes da luz apagar pegue minha toalha no chão...

quarta-feira, julho 12, 2006

Ahhhh essa pequena-burguesia...

Dei um azar enorme no meu dia. Sabe daqueles em que nada dá certo? Havia planejado passar a tarde na mostra de cinema latino-americano, que vai até domingo, tirar o resto da noite para rever amigos e relaxar. Mas diante da minha total falta de sincronia com o relógio, perdi a oportunidade de ver os filmes que havia selecionado.
Para não perder completamente o dia, decidi dar umas voltas aqui pelo centro, pagar umas contas atrasadas, convidei o caçula...Lá na Vieira achamos uma livraria nova, não deu outra, entramos para dar uma olhadinha. Caso não fossem os livros plastificados, o cheiro da coisa sendo feita amadoramente (a loja recendia a plástico derretido) e o ranço pequeno-burguês que povoa o ambiente, poderia ser legal. Infelizmente demos o azar de nos deparar com esse setor medíocre e preconceituoso. Pseudo-intelectuais, num espaço pretensamente produtor de cultura. Imagine-me, tênis furado (tá bom, já comprei novos), bolsa com a alça cruzada, cara de duranga, olhando os exemplares! Avalie se fui bem-vinda.

Mesmo assim, como meu caçula queria muito um livro novo do Neil Gaimam, compramos. Não curti o lugar. Gosto de livrarias inteligentes, onde pode-se folhear os livros, sentada em cadeiras confortáveis e decidir por vários, se o dinheiro der, claro. Essa coisa plastificada, rançosa, amadora e discriminatória, definitivamente está fora do meu cardápio!

segunda-feira, julho 10, 2006

Revelar


Hoje Sampa esteve mais cinza que de costume. Os poucos carros que ora circulam, cruzam as ruas com aquele barulhinho gostoso de pneu riscando o asfalto molhado. Esse som me transporta à infância. Quando chovia, passava as tardes vendo da janela do quarto dos meus pais, as gotas inundando o chão. Cada pedacinho dele era tomado com grande velocidade. Era uma brincadeira adivinhar onde seria a próxima a cair. As pessoas corriam a se proteger, rostos amigos. O cheiro de terra invadia o ar. Eu-menina via a tudo quietinha, observadora, olhando com dificuldade a rua, nas pontas dos pés. Sentia-me segura, protegida e permitia-me ser levada pelas sensações, odores e rostos imaginando onde iriam e como estariam nos locais em que chegassem. Gosto de chuvas assim. Trazem boas lembranças...
Nessa madrugada, chuvosa e acolhedora, relembro nosso "encontro" e imagino-o, em seu final de tarde, metido em seu blazer branco, com seus cachinhos lindos, nesse olhar sincero de sorriso maroto, insinuando delícias pensadas...Não sou mais menina e já não há brincadeira de gotas preenchendo o chão, mas confesso confiar nesse olhar, como naquelas tardes de chuva, e nos imagino desmanchando o laço e abrindo a minha-agora-também-sua caixa de bombons...

terça-feira, julho 04, 2006

Viver?

Algumas noites são mais sombrias que outras. Faltam nelas esperança e credibilidade. Essa é fruto de um dia particularmente ruim, como o de hoje. Problemas no trabalho, ambiente onde a mediocridade tem insistido em permanecer. Já não sei quem é príncipe nem sapo, a surpresa virou lugar comum, e nem em contos de fadas acredito. Humanos são cansativos, dão trabalho e decepcionam. Não quero lembrar que sou humana (parafraseando o poeta), quero apenas alento, num canto onde possa ver, ouvir, observar. Segura. Num mundo outro, onde-não-sei-qual. Mas a TV me trás de volta, com a velha ladainha comercial. Poderia desligá-la e libertá-la da programação. Dar-lhe descanso, silêncio e paz. Poderia desligar-me e libertar-me da minha programação, da alheia, da comum, do senso-comum, do que assola e isola. Mas sei que quando parar de escrever irei dormir e amanhecer e num moto contínuo, viver.

segunda-feira, julho 03, 2006

Enquanto isso...

Recebi um texto por e-mail, de um amigo virtual, falando acerca das relações amorosas a partir desse milênio. Discorria sobre os papéis sociais e de como homens e mulheres deveriam se livrar das dependências que desenvolvem nas relações. Gostei do texto porque ele investe na necessidade de construirmos nossas identidades individuais (afinal nem sei mais o que é coletivo e o que é loucura). De que apenas pessoas inteiras viveriam relacionamentos saudáveis e a convivência com a solidão nos daria dignidade, por termos de conviver conosco e vermos no outro apenas"um companheiro de viagem".
Num dado momento o autor, provavelmente libanês, diz : "
Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e do respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...". Foi nesse momento da minha leitura que percebi o quanto ainda tenho de aprender a me perdoar. Sei que desenvolvi um medo enorme das relações e talvez por isso sempre as aborte. Cada vez com uma justificativa diferente...
Essa reflexão, até então intangível, me faz ver que essa culpa pesando sobre meus ombros não é minha. Ela foi nossa, num plural distante no tempo/espaço. E nesse momento-agora não é, ainda sendo, na medida que passou turvando minha visão. Talvez este tenha sido apenas um exercício inicial para "curar-me". Isso é muito provável. No entanto, algo posso afirmar com certeza : A de que o mundo virtual pode trazer gratas surpresas. A amizade é uma delas. Obrigada, amigo- menino-homem. Esse texto é para você!