quinta-feira, outubro 09, 2008

Como dois...

Vincent Van Gogh - Par de Botas

Quantos somos aqueles múltiplos em um? De quantas formas nos escondemos em nós? Vivo enclausurada em 37 m², tamanho suficientemente necessário para disfarçar quantas sou. Ao menos até que eu descubra se há e quantas são as que vivem em mim, fora eles, que na memória carrego, já que os do ventre saíram e são por si.

Nas minhas andanças cerebrais fiz algumas recentes descobertas, nem tão certas assim, mas com grande potencial de verdade. Há 19 anos faço algo que acreditava, com paixão e intensidade, daquelas de brigar voluptuosamente. Tola. Hoje sou outra, e, numa de mim não consigo fingir que tudo está onde nunca esteve.

Dentre tantas, uma hipócrita caberia (!?) bem, ao menos poderia ter uma aposentadoria torpe, daqui uns anos, com direito a presente, abraços e homenagens. Devo segredar que, timidamente e em disfarce, gostaria de alguns abraços, dos de anos de companheirismo e trabalho. E só.

Coisa boa é abraço de quem se gosta e aconchega a vida. Coisa boa é sua cabeça doida de pensar em coisas mais estranhas. É, você disse bem :"- Você é meu feminino". Para completar sua lúcida insensatez, arrematou "- Meu feminino tem muitos princípios e seu masculino não tem qualquer moral". Como dois : Você na laje e eu sentada na privada a quilômetros de distância...

sexta-feira, setembro 05, 2008

Entre vadias, pipadas e escravidão...


"Sinto-me uma vadia nas mãos da pedra, ela tira minha liberdade. Mas é, ela só me fode, e eu ao invés de fechar as pernas, não, abro ainda mais e peço para ela me foder..É uma relação de prazer e escravidão".

Há uns meses, conversando no msn, depois de ler essas frases fiquei pensando em qual é o parâmetro para a liberdade. Aqui não vai qualquer julgamento moral, seja pelo uso da droga ou pela concepção de mulher nas entrelinhas do texto...

Minha divagação alçou outro vôo.

Somos livres porque fazemos escolhas? A liberdade não é forjada no processo dialético dado entre as condições objetivas e o inconsciente?

Nesse sentido, há liberdade? Então a liberdade está condicionada ao outro, à convivência social? É lícito satisfazer individualmente um impulso, independente das consequências?

Sou vadia quando satisfaço uma necessidade, mesmo que criada nos bastidores da indústria clandestina, cujos lucros atingem alguns de diferentes camadas sociais, que sustentam e se sustentam em candidaturas democraticamente constituídas?

Ser vadia é satisfazer meu gozo em plenitude? Sou livre nesse momento? Devo permitir que meu êxtase seja confundido com subalternização? Há escravidão livremente consentida???

Óbvio que entendi a analogia, considerei-a bonita, inclusive. Entretanto, não há liberdade, mas autonomia. Somos capazes de considerar as situações e fatores e decidir o caminho da ação. Há responsabilidade sobre as opções tomadas e o que elas ocasionam nas outras pessoas...

As primeiras "pipadas" são opcionais. Minhas pernas abrem e fecham de acordo com minhas escolhas e as vadias não existem, exceto em mentes preconceituosas.

sexta-feira, maio 30, 2008

Partitura!!


F ODA- SE

O DA- SE

D A- SE

A - SE

- SE

S E

E



quinta-feira, maio 01, 2008

Todavia TodaVida.


Pensava no que escrever sem muita certeza se conseguiria dizer algo. Sua semana havia sido cheia, mas definitivamente não queria dizer nada a esse respeito. Ela gestava, disso estava convicta.

Todos seus poros lhe diziam isso, as sensações físicas não deixavam dúvidas. Preocupava-lhe apenas como tudo seria daqui para frente, quanta mudança tal fato ocasionaria. Já estava com 46 anos e não tinha certeza dos riscos, embora soubesse que nada faria para deter o curso da natureza.

Avaliava se de fato o presumível seria natural. Sabe-se lá. Mas como diziam "...Quem está na chuva vai se molhar..." Ainda mais sem proteção.

Caso houvesse algo que poderia ter feito, resguardar-se não tinha sido uma. Na verdade era tudo que ela desejava. Assumiria todos possíveis e prováveis senões...Ansiava pela vida nova que trazia consigo.

Todo último ano trabalhara nessa direção. Os médicos, os recentes exames, os resultados, a terapia, a mudança de remédios. Tudo corroborava para o momento, então por que a apreensão?

Pelo novo, talvez. Apesar de toda experiência que tinha, definitivamente seria muito diferente.

Qual aspecto teria? Que embaraços provocaria? Sorria feliz pensando nisso. Só o tempo responderia essas perguntas e traria outras, certamente... Aprendera que algumas certezas são efêmeras e mexer em tudo é saudável...

Suspirou com tranquilidade, afinal teria alguns meses até descobrir essa síntese sua. Tão sua quanto de todos que participavam da sua transformação. Embora aceitasse todas as participações queria essa responsabilidade para si, afinal era nela que crescia.

Uma nova pessoa preparava-se em si. Que fosse bem-vinda, então...

sábado, abril 26, 2008

Só para dizer que enfim...


Virada Cultural. São Paulo é interessantíssima, ouço buzinas enlouquecidas para conseguir passar. Como alguém que veio de carro não imaginou a possibilidade do centro da cidade estar lotado?

Vai-se de metrô ou pé. Daqui vou andando até os palcos, todos muito perto. Não sei se tenho vontade, mas ao menos permanece a vantagem de sair agora e pegar o que realmente importa...

Essa é uma boa idéia. Acho que vou pensando enquanto tomo banho. Apesar de odiar situações de "obrigatória alegria coletiva" talvez seja bom. Vamos ver se vou querer sair de casa depois que ele vier...

sexta-feira, março 28, 2008

Quem tem seda?


Outro dia vagueando pela net li uma frase que me chamou a atenção. De início acheia-a corretíssima, depois de pensar sobre o assunto já não tive tanta certeza...

A frase dizia algo como " Cacos não voltam a ser vaso". É verdade. Viram outra coisa. Talvez nem um vaso, não o mesmo, ao menos...

Podem virar lixo, se a vontade for jogar tudo fora ou até brincar de recompô-lo. Com novo formato e novos elementos de "colagem" para os espaços vazios. Porque as peças nunca se encaixam perfeitamente, não todas... Não mais...

Podem virar bandejas também. Quem nunca fez uma com caquinhos (mosaico) quando era criança, na escola? Então, eu adorava fazê-las, fiz algumas. No entanto, confesso que não me especializei em artesanato muito menos em cacos...

Para ser sincera ainda nem sei o que fazer com os que ainda vejo em minhas mãos : Às vezes penso em jogá-los no lixo, às vezes em apenas aprender que limitações existem e a culpa não é de ninguém, outras de que essa lição seja a última aprender.

Enquanto não sei, vivo.

Navego nas possibilidades e tento fechar o que ainda está em aberto. Quem sabe assim pare de doer. Tudo bem que já nem dói tanto, nem todo dia, só numas partes dele...E, porventura, não abra definitivamente as mãos e deixe tais cacos virarem uma massa de qualquer coisa, para outra moldagem, afinal meu lixo não funciona nessa área (mesmo eu disfarçando bem).

Gostei. Então que virem pó, no dia que der, quando for o momento. Como não sou a Amy Winehouse, apenas fumo o que sobrar. Claro, no sentido Ganja da coisa!!

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

É...


Não é fácil ser mãe separada, decidir sobre os rumos das vidas dos filhos. Essa semana tive de manter a mais difícil decisão desses 20, quase 21 anos, em que sou mãe.

Acreditava que poderia ser mais amiga que mãe, para estar mais próxima, sem mentiras ou imposições. Tentar contribuir para construir uma pessoa inteira, com forte possibilidade de ser feliz, apesar desse mundo louco, contraditório e insensato em que vivemos.

Enganei-me. Super-protegi, tentando minimizar a dor das situações pelas quais ele passou... Enquanto ele testava os limites eu, ao invés de manter com firmeza a decisão que tomara, cedia, pensando na forma como ele sentiria-se na situação, afinal me colocava em seu lugar...

Um erro. Fazer isso significou negar-lhe o direito de amadurecer, tranquei-o numa redoma, sem chaves. Numa redoma livre demais, ampla, sem limites. Limites, eles de novo.

Diante da minha incapacidade decidi que ele moraria com o pai. Numa casa maior, com seu próprio espaço, trabalhando, estudando, com horários pré-estabelecidos, mas numa outra cidade... Já chorei muito essa semana, faltei ao trabalho mais do que deveria...

Ele joga pesado, é firme o danado. Tem um caráter ilibado, é inteligente, bonito, mas precisava de uma mãe que não consegui ser...Quero muito sua felicidade e esse rito de passagem é inevitável para sua vida adulta.

Por isso já disse outro dia. Parir é fácil difícil é decidir tudo depois...

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Quantas máscaras serão necessárias???


Limites. Sempre tive dificuldade em estabelecê-los. Sempre. Durante longo tempo oscilei entre o tudo e o nada. Nunca havia aprendido a possibilidade das alternativas constantes no "meio de campo". Tem sido um aprendizado.

Em que pese meus obstáculos nessa seara, sinto pena daqueles que se omitem. Dos que escondem suas debilidades numa aparente ingenuidade, num pseudo-zelo com alhures, deixando suas feridas expostas, sangrando, fazendo de conta que inexistem.

Conheço gente assim. Pessoa que traduz medo e vergonha num risco calculado, num espaço para boas manobras. Usando álibis socialmente confortáveis. E tudo caminha assim, como se fosse verdade, como se não houvesse irresponsabilidade no envolvimento dos que chegam.

Diz-lhe o que quer. Essa agri-doce tautologia. Acredita a conveniência.

No entanto, como a vida insiste em "pregar peças" um dia a corda quebra, como já quebrou e quebrará. Aquilo que é latente se não bem soterrado teima em REspirar...O inconsciente é buliçoso.

Essas máscaras são engendradas pelos covardes, uma espécie consciente de sua hipocrisia.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Tudo vai ficar bem


Composição: John Ulhoa / Andrea Echeverry

"Sei que tudo vai ficar bem
Só não sei se vou ficar também

Eu faço tanta coisa
Pro mundo melhorar
Eu faço de um tudo
Que posso pra ajudar

Eu distribuo amor
Eu curo solidão
Mas peço por favor
Alguém me dê a mão

Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se sobreviviré
Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se yo me salvaré

Estoy comprometida
El mundo hay que cambiar
Y en esta corta vida
El verbo es ayudar

Yo distribuyo amor
Con toda soledá
Y pido por favor
Que mi tengan piedad

A vida da trabalho
Se lo digo señor
Eu digo pra senhora
La muerte es un horror

Eu luto só por paz
Ajudo meu irmão
Mas sinto que o destino
Quer me jogar no chão

Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se sobreviviré
Sé que todo va a estar bien
Lo qué no sé es se yo me salvaré

Sei que tudo vai ficar bem
Só não sei se vou ficar também"

Pato Fu

PS.: Parir é fácil, difícil é decidir tudo depois...

sábado, janeiro 26, 2008

Gritos noturnos.


Era quase manhã, o dia invadia o apartamento junto com os sons urbanos costumeiros. Havia uma noite a mais para dormir, no cômputo geral da sua vida. Essa fora insone, mais uma...

Perdera-se nas divagações, navegando na internet, baixando músicas. Como era de costume, como sempre gostara de fazer. Sua solidão não era só. Aprendera a preenchê-la consigo, há muitos anos, aliás. Sentia-se em paz nessas situações.

No entanto, essa especificamente, fora diferente. Antigos sons penetraram seus ouvidos e a dúvida gritara a noite toda. Embora soubesse o caminho que trilharia, poderia interferir na situação. Sabia da sua posição, dos prós, contras e do poder que tinha...Sempre soubera e nunca o usara...Não havia aprendido a jogar e sempre lhe assustara o desespero alheio. Que era nítido!

Quisera muito conseguir apenas concentrar-se nas suas metas, mas esses sons estiveram alí toda noite.

Entre isso e o que faria, existiam os dias...Deitou-se e decidiu, naquele momento, deixá-los correr...

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Gone Good


"I'm never going back never going back to you
I'm never going to see you again
I'm never going to dig out your picture
I'm never going to look you up someday
Life is very short
You don't love me anymore
So I'm never going to see you again
I'm never going to write you a letter
Never going to call you on the phone
I'm never going to drive by your house
I'm never going to catch you coming outside
Never going to walk up your walk
And ring your bell
And feel you fall into my arms
I'm never going to see you (x2)
I'm never going to see you again
Your gone for good"
Morphine

quinta-feira, janeiro 03, 2008

2007


Foi um ano muito estranho. Pela primeira vez na vida desabei. Eu que sempre soube resolver tudo: No trabalho, em casa, com os filhos, no namoro, na militância sindical, na vida cotidiana.

Aprendi que não sou a fortaleza que sempre supus. Fui obrigada a procurar ajuda e aceitá-la. Coisa difícil para mim...Aprendi o que é a depressão, sem nunca ter prestado atenção a ela : Algo em que nunca pensei.

Comecei um tratamento psiquiátrico e psicoterapêutico, tive muitas baixas, momentos de total desespero, de querer sumir e nunca mais viver, de largar a terapia, de fugir da consulta psiquiátrica, de ter medo de sair de casa.

Hoje vivo um momento muito diferente, levei 10 meses para descobrir que o foco da minha vida sou eu. Não os outros, o mundo que sempre quis mudar...

É custoso sair do vazio que me meti, não tenho a menor idéia do que irá acontecer, sei apenas que tento, e que vou continuar fazendo isso, porque eu me descobri mais que nunca. Sou mais inteira na minha debilidade e fraqueza. Não tenho nada mais a mudar do que aquilo que me incomoda em mim.

Descobri uma estranha felicidade, tranquila, e a certeza de que estou apenas começando...Aos 45 anos ainda não sei quem sou.