domingo, dezembro 30, 2007

Permissão!


Nada como a paz interior, a reflexão sobre nós, a caminhada que nos ensina e nos faz ver o mundo sob outra perspectiva.

Pode até ser papo de ano novo, mas sinto-me renovada e o ano ainda nem terminou. Os ciclos individuais nem sempre coincidem com as convenções...

É como se eu conseguisse ver e sentir para além do vazio em que estava.


Algumas pessoas entram em nossas vidas e nos ensinam : A rever idéias, princípios, formas de agir. Tudo isso é muito bom! Mesmo quando o processo é não linear, contraditório, e às vezes angustiante.

Sei que estou bem. Fazia tempo em que não me sentia assim feliz, de bem, sem mágoas, deixando a vida correr seu rumo dentro dos planos e perspectivas que tracei para mim.

Paz interior tão arduamente perseguida nesse ano difícil...

Por isso digo ser sempre necessário mudar o foco, transferí-lo para nós, permitindo-nos...Tantos meses de terapia e só agora consigo, de fato, entender o que isso quer dizer. Muito bom!!


Ahh vida, como é bom tê-la de volta!!

domingo, novembro 25, 2007

Respeito!


É difícil viver o luto de uma relação. Deixar a dor vir, refletir sobre ela e esperar que passe.

Deve-se reconstruir os dias, tentando ausentar a pessoa do pensamento, da vida, dos detalhes que ficam no cotidiano.

Onde a pessoa sentava, como o fazia, sobre que coisas conversava, os olhares, aquilo que ainda falta devolver: livros, revistas, cd's...

Estou num processo de libertação. Agora sei o que quero. Daqui para frente caminho só, dei o passo fundamental. Porque respeito não se barganha, não se molda, não se pede. Ou conquista-se ou não!

Cada vez mais aprendo a me respeitar, por isso disse: Basta!

quinta-feira, novembro 01, 2007

"Conhece-te a ti mesmo"


Hoje fez um calor quase insuportável e aproveitei mais esse dia de folga para colocar algumas idéias no lugar.

Na verdade, quando tento colocá-las assim, comumente me aprofundo mais, pois novos questionamentos assumem, automaticamente, o lugar dos antigos...Isso na melhor das hipóteses, porque pressupõem soluções anteriores.

Enfim, sei que essa minha mania de pensar toma grande parte do meu tempo. Tempo em que deveria ler...

Muitas vezes pego-me absorta, olhando fixamente um ponto, mas longe, muito longe dalí. Meu caçula diz que, nessas horas, fico com os olhos arregalados. Coisa que nem percebo. Distraio-me em divagações. Olho-me sem ver-me...

Essas de hoje, em decorrência do calor, foram mais perturbadoras. Talvez o tempo seco e quente tenha ajudado-me a transportar-me para um mundo assustador, onde o desvario propõe as regras e o tempo é tangido pela fluidez veloz do inconsciente, das imagens mentais aparentemente desconexas, mas com um significado peculiar, característico.

Nesse processo desvelo-me mais um pouco, e adentro a mim mesma, objetivando um dia ser inteira.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Ir?


Tenho sempre muita vontade. Ela quem me move ou paralisa-me. Nem sempre sei sua direção.

Ultimamente uma vontade tem sido meio autônoma, quase um outro eu.,obrigando-me, com muito esforço, a seguí-la.

Olho-a de fora, num cantinho, encolhida, esperando aonde me levar... Só assim posso contestá-la. Os dias pouco me provocam e ela cutuca-me insistente nesse seu pedestal insuportável de quem acredita saber tudo.

Mesmo com a certeza de que a importância alçou vôo e foi-se a um lugar não sabido e possivelmente inabitado, aprendo que a escassez comanda e os lugares são a idiossincrasia da mediocridade humana.

Minha vontade essa semana pede-me, implora-me que feche os olhos serenamente para nunca mais ...

segunda-feira, outubro 08, 2007

Histórias de Itaqua I


Nada como um final de semana em boa companhia para reequilibrar-me. Nesse, fui para Itaquaquecetuba, cidade de nome estranhoe que guarda muitos mistérios...

Havia já dois anos que uma grande amiga me convidara para conhecer sua nova casa. Ela, uma professora de português aposentada, que por questões de sobrevivência, fez novo concurso e escolheu aulas por lá.

Num rasgo de romantismo relembrou sua infância pobre e decidiu-se por manter-se naquela paragem, dando aulas para a molecada que anda de pés no chão, que nem sempre tem o que comer, muito menos atenção na sua educação escolarizada.

Cheia de vontade de acertar, escolheu uma escola num bairro afastado de Itaqua, num lugar esquecido por quase todos...Quase...

Num sobe e desce morro, nas frias/quentes/chuvosas ou secas manhãs desse lugar, lá vai ela, na altura de seus 55 anos de idade, transformar a curiosidade juvenil em palavras de solidariedade e visibilidade de um cotidiano sofrido, mas que, no mundo pré e adolescente se traveste de magia. Banhos de rio, catar fruta no pé, brincar na rua com os amigos, correr sem rumo...Olhar lânguido o menino ou menina que lhe atrai...

Raras vezes senti-me tão orgulhosa das opções de meus parcos amigos. Não é nada fácil largar a rotina paulista, com todos as suas benesses e dificuldades para se aboletar numa casa simples, com quintal de terra batida, onde a falta de chuva massacra as plantas e deixa tudo da mesma cor. Mas ela estava decidida num novo caminho. Ainda bem.

Conhecida na rua e adjacências como a professora, é assim que lhe chamam em casa, num quase entrar pela porta, gritando da soleira : _ "Ô, professoooooooora". E lá vai ela atendê-los com sua boa vontade cercada de gatos. Atende à todos, oferece-lhes comida, dá-lhes atenção. É uma pessoa muito querida nessa comunidade, respeitada pelo seu trabalho. E é dele que quero falar...

Na nossa ingenuidade de cidade grande pensamos que algumas histórias não são mais possíveis em pleno século XXI. Ledo engano. Numa escola estadual, de fora do asfalto, nessa região, não é raro, infelizmente, que diretoras e coordenadores, se entendam no direito de solapar o presente e o futuro dessa meninada empobrecida. Essas cracatuas enlouquecidas, fazem acordos sórdidos, com não professsores (gente que faz uma faculdade vaga e acha que virou educador) para que faltem, à módicos $20 reais sem apontamento da falta no livro-ponto.

É assim. Não se tem trabalho com nada, exceto esse de matar essa juventude em vida, impedindo-lhes o direito de construir saber formalizado. Dos 63 professores dessa escola em questão, apenas 8 se revoltam e numa contramão surda e cotidiana, insistem em dar aulas todos os dias, em não coadunar com esse descaratismo e a respeitar jovens e comunidade com seu trabalho incansável de educadores engajados na certeza de que é fundamental encarar a escola pública e sua educação com seriedade e compromisso com a socialização do conhecimento científico .

Valores obsoletos para os detentores do poder, seja local ou macro. Uma escola esquecida, numa região pobre, com crianças destinadas ao analfabetismo, exceto por 7 guerreiros encabeçados pela realeza desprovida de poder, mas repleta do que de melhor se faz uma mulher : Inteligência, coragem, criatividade, sensibilidade, altruísmo e uma generosa dose de carinho!


Para esses oito educadores meu respeito e minha solidariedade. Às diretoras, coordenadores, prefeitura e demais governos construtores da miséria meu mais profundo repúdio!!

sábado, setembro 29, 2007

Um quase lá...


Há algumas pessoas que originam a construção do estado de indiferença. Coisa boa essa. Pense, se for possível esse desprendimento quanta dor tornar-se-à simplesmente inexistente?

Atingiríamos o nirvana. Seja lá o que isso signifique. No meu parco repertório ele é uma idéia de placidez, sublimação, um deixar de ser para quem não aguentou o tranco da vida...Espero, sinceramente, não ser bombardeada pelos religiosos que almejem alcançar esse patamar. Bem-vinda a segurança de um escrito lido por ninguém...

Enfim, apenas sei que pretendo atingir essa "coisa". Quero, assim que minha ira abrandar, sentir-me dessa maneira.

Obviamente não saberei fazê-lo para tudo, ainda bem! Minha pretensão é mais seleta, diminuta até, é um quase extirpar, seguro de ser quem sou.

Tudo bem, ainda não sei plenamente de mim. Mas tenho algumas aspirações. Hoje fecho definitivamente um ciclo e me abro para o mundo!

Que venha então!

segunda-feira, setembro 24, 2007

Sua



Uma segunda-feira morna e chuvosa que me lambe. Suporto sua saliva quente, úmida, virando o rosto para não encará-la.

Mas esse sabor me cativa devagar... E vem essa vontade preguiçosa, lânguida, sensual...Brotando...


Tento resisitir, mas meus poros clamam...Mais!! Quero a satisfação desse gosto, quero essa língua quente e sedenta em mim.

Quero muito...


Especialmente hoje quero ser toda sua...

quinta-feira, setembro 06, 2007

Duas...

Hoje tudo estava lotado, ruas com mais carros, trânsito o dia todo, lentidão em dia de sol. Todos prontos : Cores, risos, casais, grupos de amigos, mochilas, malas, bolsas de viagem, conversas empolgantes,muitos violões pendurados, metrô lotado, rodoviária cheia, congestionamento nas estradas... O passar das horas aumentava a expectativa coletiva de felicidade : Quem não gosta de fugir do estresse cotidiano de uma cidade como São Paulo? Quem não quer sair e aproveitar a estrada em dias de calor? Quem? Eu. Adoro São Paulo em vésperas de feriados : Quanto mais as pessoas partem, mais a cidade torna-se minha... Amo suas ruas desertas, o quase silêncio, a indolência paulistana de quem fica. Andar a toa pelo centro, ver um filme, sentar num banco de praça, sentir a cidade vazia com seus olhos grandes e penetrantes. Olhos de quem aprendeu, experimentou muito, e permanece aberta para viver os dias futuros, não por vontade, mas por vício da vida por 
engendrada... São Paulo, apenas, que me e se liberta da obrigação cotidiana e permite-nos respirar com alívio e sede de nós. São Paulo minha, eu minha, nós duas plenas de vida e libertas de amarras... Ahhhhhh os bem-vindos feriados prolongados!

terça-feira, setembro 04, 2007

Você!!


Algumas mudanças, mesmo quando doloridas, trazem a possibilidade de reaprendermos, de olharmos para dentro de nós e vermos o que de fato importa, quais são nossas referências e quem nos acompanha nelas...

Muitas vezes esse processo contêm prazeres inusitados, traduzidos em pessoas queridas: umas nos estendem a mão, o ombro amigo, a amizade. No entanto, outras vem de corpo inteiro, de mansinho, sem pedir nada, apenas por perto, olhando tudo e verificando se está tudo bem...

Você é assim, esse anjo protetor, que me acolhe, me reconhece, me ama, no momento em que mais preciso...Obrigada...Sei que vem por aqui secretamente e, hoje, especialmente, esse post é seu...

sexta-feira, agosto 24, 2007

Só o tempo dirá...


Noite insone.

Cartas na mesa.

Dúvidas.

Incertezas.

Insegurança.

Mas a necessidade de caminhar em frente, seja ela qual for.

Para ser inteira e sólida, flexível e densa, numa outra forma, talvez...Não sei...

Novamente apenas sei o que sinto. Sei?

Qual foco? Ângulos diversos...

Vamos lá, nosso tempo dirá.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Às décadas!!!!!!!


Numa sociedade que valoriza o efêmero, o descartável e a rapidez no ser e fazer (afinal um trabalhador multifacetado, que produza no lugar de vários , manipulando cartões e robôs, continua gerando mais-valia), envelhecer é algo quase pecaminoso...

Chegar aos 30 torna-se problemático, principalmente para mulheres que pensam estar chegando ao limite de sua capacidade reprodutora, casar e ter filhos vai tornando-se um desespero...Que pena...Passar dos 40, então, pode ser criminoso!

Pois eu digo que tudo isso é uma grande tolice ideológica, que comprada a preços caros no mercado, nos faz perder o que há de melhor na vida... Crescemos acreditando que apenas seríamos felizes se alguém nos "completasse", como se fôssemos metades, incompletos, ou como se não houvesse um casamento com filhos jamais poderíamos ser felizes...Quanto barulho produz o Marianismo, essa concepção de que devemos ser metades, subservientes, mães perfeitas ( ou suficientemente boas. Aliás, nessa concepção há pais??) dedicadas ao lar.

Nunca consenti em ser assim, também não sou boa em planejamentos, nunca quis casar, ter filhos. Apenas vivi o que foi acontecendo-me (mesmo que isso pareça pouco racional e politicamente incorreto, a maioria da humanidade foi gerada assim, ao acaso, na percentagem de falhas dos métodos contraceptivos - isso na melhor das hipóteses). Amei e fui amada por vários anos por um homem, e dessa relação nasceram meus dois filhos. Com todos os senões e contradições possíveis de tais fatos, o que quero dizer é que é ingênuo avaliar que podemos ter total (ou parcial) controle sobre nós. Pessoas estão muito além da relação obtida em ratos de laboratório, de estímulo e resposta.

Hoje amo um homem muitos anos mais novo que eu e sei causar incompreensões alheias, estranhamentos e preconceitos, mas o amor é assim : alheio a barreiras, tradições e hipocrisias sociais...


Somos construções históricas, contraditórios, e muitas vezes estranhos a nós mesmos, ainda que responsáveis pelas opções que fazemos ao longo da vida.

Sei que amadurecer e ter 45 anos é muito bom! Mesmo com várias e chatas responsabilidades cotidianas penduradas...

Nesse meu momento de vida em que estou do avesso , afirmo ter vários princípios, algumas certezas, muitas dúvidas e a eterna necessidade de aprender!!!

sábado, maio 26, 2007

Não esperem por mim...


Nem sempre as descobertas são boas. Muitas vezes elas nos rasgam com os finos filetes da obscuridade revelada.

Tudo é registrado, armazenado, latente... Tudo!!

A omissão, mesmo seguida de boas intenções corroídas de auto-preservação, é tão grave quanto a mentira. Essa indigesta parceira humana. Sua, minha, de todos.

Ontem transbordei. Minha responsabilidade antiga, recém descoberta, virou-me do avesso. Literalmente. Hoje sinto-me só e quero-me mais que a tudo!

Chega de consentir, de "não-ver"...

Peço licença a todos, mas partir-me é fundamental!

sexta-feira, maio 11, 2007

Se você tem sede lave sua bunda!


Gosto de morar no centro de São Paulo, em que pese a barbárie evidenciada pelos moradores de rua, miseráveis sem teto, trombadinhas e que tais, oriundos das reformas neoliberais impetradas pelo continuísmo lulista e seus antecessores, até que é um bom lugar...

Ainda há algumas áreas verdes, a facilidade de acesso aos equipamentos culturais, hospitais, supermercados, sem contar a arquitetura de alguns prédios antigos, que ainda guardam, entre restos de pintura e dejetos humanos, a dignidade daquilo que foi um dia a elite "santaceciliana",
do final do século XIX.

O prédio onde moro, por exemplo, data da década de 1950, e apresenta vários problemas estruturais, como o das colunas, onde ficam os canos de vazão da caixa d'água. Devido a ação do tempo eles estão enferrujados e houve a necessidade de trocá-los.

Reforma é sempre algo que nos tira do sério. Quando estamos dentro de casa então, é de enlouquecer.

Há cerca de três dias estamos com os tais canos expostos no nosso banheiro, esperando a troca dos mesmos nos apartamentos acima do andar onde moro, a fim de que o serviço fosse bem feito e definitivo, e principalmente, porque a conexão entre um cano e outro dá-se no outro apartamento.

Diante desse quadro armei-me de paciência aguardando a solução do problema. Acontece que entre um apartamento e outro, na vertical, fez-se um buraco no chão, para proceder-se à troca dos canos. Até aí tudo muito lógico e plausível, exceto saber-se flagrado nas suas mais íntimas necessidades pelo vizinho de cima, ou ele por mim, cá embaixo.

Como todos sabemos o quanto pedreiros cumprem prazos com precisão britânica, chegou sexta-feira no final da tarde e, com a sorte que sempre tenho nessas situações, parou-se toda a obra.

Obtive do responsável a promessa de que segunda-feira sem falta meu banheiro estaria "quase" em ordem, aquietei-me concordando com os argumentos, e lá fui eu cuidar das minhas coisas, quando ouvi um barulho de água no banheiro.

Corri para lá olhando tudo com grande espanto e tentando entender a origem toda aquela água...

Sei dizer que depois de síndico acionado, vizinhos, cachorros e cheiro de sabonete barato no ar
descobri que meu "vizinho de cima" decidiu tomar banho e o tal buraco dos canos fez sua água de banho, com sabe-se lá mais o quê, cair em forma de cascata em meu banheiro.

Apesar de argumentar que o pedreiro fora contratado pela síndica, e que a água que encharcava meu banheiro era a do banho do vizinho, eles e seus respectivos banheiros estavam secos!!

Fechei minha porta e enlouquecida cheguei à conclusão de que cada vez mais as pessoas agem de acordo com a quantidade de água que lhes bate na bunda.

Resultado: vociferei a falta de solidariedade humana enquanto lavava meu banheiro, pensando em qual guarda-chuva usaria para prevenir-me de possíveis cascatas na madrugada...

quarta-feira, maio 09, 2007

Vazio...


A noite estava fria, assim como tinha sido todo o dia. Ela procurou algo para se agasalhar e, quem sabe dessa forma amenizar sua sensação de vazio.

Decidiu fazer um chá. Enquanto repetia os gestos mecânicos de preparar a bebida, lembrava das ações cotidianas de solidariedade. Sabia das pessoas queridas a envolverem em carinho. No entanto, isso era insuficiente.

Sentia o peso da reação das pessoas ao perceberem sua tristeza e solidão e de quanto havia sido referência a elas. No último mês ouvira muito isso. As frases objetivavam consolá-la, mas subentendiam que recuperaria sua antiga forma de ser, afinal sempre fora tão forte, tão decidida, tão...

Jamais seria o que fora. Começava a aprender a ver-se nesse amálgama que construíra na sobrevivência cotidiana. Seria qualquer outra coisa, exceto a carapaça institucional das palavras solidárias.

Enquanto aquecia suas mãos, na caneca de chá quente, tentava vislumbrar sua síntese.

sexta-feira, abril 27, 2007

Introdução.


É difícil assumir erros, falhas e muito pior encarar-se débil. Supus durante longo tempo minha fortaleza. Estava além das fraquezas e nunca permiti-me sentir dor. Rapidamente driblava minha necessidade de luto e construía, sem saber, o alicerce daquilo que sou hoje.

Meus poros gritam por atenção : Minha!

Fantasmas povoam meus pensamentos. Começaram a visitar-me. Não conheço todos. Sinto-me frágil, sem saber como exorcizá-los. Tenho de aprender a dialogar com cada um, sem máscara. Não sei fazer isso, ainda. Sei apenas que começo a tentar...

terça-feira, março 27, 2007

O encontro.


Algumas coisas ela não entendia, o silêncio era uma delas, tão acostumada a expressar suas idéias...Pensava nisso enquanto olhava pela janela do ônibus. Observava a rua, as pessoas, os prédios e como afinal de contas a cidade estava visualmente menos poluída.

Decidiu relevar, acreditar que o corre-corre cotidiano era o responsável pela ausência de respostas. Chegou seu ponto, deu sinal e desceu. A Lua estava linda, um filete dela quase Nova. Gostava de admirá-la e lembrou-se de quando tinha tempo para fazê-lo. Há anos não se preocupava apenas consigo. As responsabilidades cotidianas a impediam disso.

O dia tinha sido quente, atribulado, queria apenas um banho relaxante e deitar. Com sorte conseguiria descansar antes da meia-noite. Torcia por isso.

Caminhava até sua casa com passos lentos de quem volta do trabalho. Nem percebeu o estranho se aproximando, quando deu por ele já tinha sido abordada :

_ Passa a grana, dona! Anda!!

_ "PQP", era só o que me faltava...

_ Cala a boca e "passa" logo, vai!

Ela olhou bem dentro dos olhos do assaltante. Eram familiares...

_ Olha "prá" baixo!! Hei!! A senhora não foi minha professora?

_ "Cara", não é que fui mesmo!! Nossa, quanta coincidência...Está tudo bem com você?

_ "Prá" senhora "vê", a vida "tá" difícil. "Cassete", gostava da sua aula. Não, o celular pode ficar...é velho esse...

_ O que você quer levar então? Me conta, continuou estudando?

_ "Sacumé" tive de parar... Daí virei ladrão, se "pã" dá mais dinheiro do que professora, "tá ligada"?

_ "Porra", se "tou", qualquer coisa dá mais "grana".Enfim, só tenho dez "paus"...Vai levar?

_ "Magina"...Se soubesse que era a senhora nem tinha falado nada, vai em paz. E se cuida, hoje em dia "tá" tudo perigoso...

_ Está bem, obrigada! Mas veja se volta a estudar, era tão bom aluno, inteligente, questionador...Boa sorte para você!

_ "Valeu", dona!

Ele disse isso e sumiu entre os carros. Ela ainda ficou uns minutos parada, atônita. Pensando no que tinha acabado de acontecer. Respirou profundamente e continuou a andar tentando se recompor do susto. Vasculhou a bolsa e achou um último cigarro. Acendeu-o, deu uma longa tragada e refletiu na ironia da situação e em como as condições objetivas destroem potencialidades. Olhou seu cigarro e avaliou como seria possível parar de fumar numa cidade como São Paulo!!

sábado, março 24, 2007

Ninguém precisa!!


Pós- modernidade, é o que dizem. Individualismo, consumo exacerbado, exposição absoluta da privacidade, controle e domínio daí advindo, mediocridade, competição, desemprego, subemprego, um trabalhador versátil para uma formação instantânea. Mix subsidiado pelo vale tudo da "revisão de paradigmas". Em cada período uma desculpa, um arcabouço ideológico, fácil de usar. Cabe em qualquer bolso.

Premissas antigas, isso sim, apenas alguns degraus abaixo, no subterrâneo daquilo que pudemos um dia ser.

Porvir.

Por vir ainda está nossa mais ampla excrescência.

Ah, claro! Há aqueles que fazem : os que montam ONGs, com farto subsídio público, mas isso é apenas um detalhe diante de "tudo" o que fazem; os que exercem poder no interior dos "aparatos", sindicatos, partidos, centrais; os que carregam "piano", eternos mantenedores do status quo...

Existe você e existo eu. Ao menos é o que diz o espelho. O refletor da aparência insólita que guarda a eterna insatisfação dos dias, da vida, das relações. A visão que descortina torna-se inútil na mesma proporção da loucura consequente-inconsequente por ela incitada.

Maldita mania de responsabilizar-me pelo fim, tão importante quanto o método...Importante? Porra de amálgama!!

sexta-feira, março 16, 2007

Metamorfose.


Passo por mudanças internas. Tem sido um processo estranho. Há dias mais difíceis que outros, há dias bons e alguns dias simplesmente não são.

Tem algo gestando em mim que ainda não sei identificar. Sei que mudará muita coisa, sinto isso, em que pese minha racionalidade sempre presente, o departamento tem sido outro. Simples assim, profundo assim, estranho assim e ainda não completo.

Há uma enxurrada de situações permeando meus pensamentos : É hora de definir o que de fato quero e de qual maneira...Minha forma contraditória de ser aguça-se . Quero e não quero, amo e odeio, decepciono-me e culpo minhas expectativas. De fato são elas as responsáveis. Quando não se espera nada, nada decepciona também. É óbvio.

Nesse processo, todo tipo de conhecimento é bem vindo. Tenha ele a estirpe que tiver. Fodam-se a tradição e meus bons modos. Estava mesmo na hora!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

O Lula tem dentes no país dos banguelas.


Uma bala, uma enorme bala! Dolorida e dura!!

É assim que se parece esse infernal calombo no meu rosto, fruto de um tratamento dentário mal feito, há anos atrás...Dois, para ser mais precisa!

Dada a constante ocorrência dessa merda entre nós; os sem eira, sem beira, sem porra nenhuma; só posso concluir que seja algo proposital.

A quem atendem os dentistas mal formados?? À ânsia do mercado, ao lucro fácil do desvio de dinheiro público para os cursos particulares de qualidade duvidosa, via PROUNI, via política educacional. Naquilo que não cabe na bolsa de estudos (?!), pagam seus cursos com grande dificuldade, à custa da poupança familiar, da escolha entre caminhar mais um trecho à pé ou ir de ônibus e ver no que vai dar amanhã...

Clinicam para nós, a preços módicos, a perder de vista em consultórios de gosto duvidoso e sujeira escondida atrás de quadros da parede...

Nós, os proprietários de calombos entumescidos de dor e pus, os frequentamos pedindo clemência, afinal é tão pouco o que nos salva...Nos vendemos por uma extração que nos alivie o martírio de sermos os desvalidos que somos, os páreas com pose de gente e livros embaixo dos braços. Inúteis diante da fúria das reformas educacionais que nos impingem aos mal formados.

Deveria absolvê-los por serem maus profissionais? Deveria bradar contra a política educacional responsável pela má formação desses dentistas? Deveria adentrar as fileiras da revolução que nunca virá?

Enquanto decido, pego mais um comprimido contra minha insuportável dor de dentes!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

O Caos


São Paulo quando chove torna-se definitivamente o caos. Tudo pode acontecer. O imprevisível ganha corpo e dançamos nessa melodia.

Os rios transbordam, o trânsito para, os carros buzinam, ninguém se entende.
A água que deveria escoar encontra o solo impermeável pelo asfalto, decorrente da expansão urbana não planejada. O lixo corre solto nas ruas alagadas, o fedor torna-se insuportável, mesmo aos narizes mais resistentes.

Os pontos de ônibus lotam, o metrô não anda e vociferamos a vida cotidiana. Maldita chuva!!

No entanto, esse aparente acaso segue leis bastante precisas.

Você abre, "inocentemente", a janela do ônibus (ou mesmo do carro) e joga seu lixo pessoal na rua.

Esse mesmo lixo é carregado pela balbúrdia diária dos carros, das pessoas atravessando a rua, e estanca com seus similares na sarjeta mais próxima.

O cachorro vai lá e o fuça, acompanhado pelo mendigo que come os restos gerais. O que sobra disso entra no esgoto permanecendo alí com todos os outros restos urbanos, entopindo tudo.

A limpeza do esgoto não ocorre porque a empresa terceirizada, responsável pelo serviço, não recebeu, da prefeitura, no prazo contratual. Apesar de ter pago a propina combinada, no processo de licitação.

A prefeitura acusa o governo federal de não ter repassado as verbas acertadas no último acordo partidário de votação daquela medida provisória, que seria utilizada para quitação das dívidas com todas tercerizadas dos serviços de limpeza do município.

Já o governo federal argumenta que precisa manter a meta de superávit primário, estabelecida pelo FMI/BIRD na última negociação da dívida externa brasileira.

FMI/BIRD não dizem nada, até hoje confundem a capital do país.

Mas quem permanece preso pela chuva???

" a teoria do caos não é uma teoria de desordem, mas busca no aparente acaso uma ordem intrínseca determinada por leis precisas."

domingo, fevereiro 04, 2007

Fast as you can

Eu deixo a fera quieta por pouco tempo
Não sei como viver sem minha mão na sua garganta
Brigo com ele agora e sempre
Oh, meu bem, é tão doce, você acha que sabe quão louca,
Quão louca eu sou.
Você diz que não se assusta facilmente e que não irá.
Mas eu sei que sim e rezo para que isso aconteça.
Rápido quanto puder, meu bem, corra, livre-se de mim.
Rápido quanto puder.
Posso até ser suave na sua mão, mas em breve estarei faminta por uma briga.
E não deixarei você ganhar.
Minha linda boca irá modular as frases que irão dizimar sua fé na humanidade.
Então se você me pegar tentando encontrar um caminho para o seu coração por debaixo da sua pele,
Rápido quanto puder, meu bem, me arraste para fora, livre-se,
Rápido quanto puder.
Rápido quanto puder, meu bem, me arraste para fora, livre-se,
Rápido quanto puder.
Às vezes minha mente não chacoalha e muda
Mas, na maioria das vezes, sim.
E eu chego ao lugar onde estou implorando por uma carona
Ou mergulharei nos porquês e no que se foi
Serei sua garota se você disser que é uma dádiva
E me der mais de suas drogas
Sim, serei seu bichinho de estimação se você apenas disser que é uma dádiva.
Pois estou cansada de porquês, engasgada nos porquês.
Só preciso de algumas respostas.
Eu deixo a fera lá e então...
Até tentei perdoá-lo, mas estava muito cedo.
Então brigarei de novo, de novo, de novo, de novo, de novo.
E por mais um tempinho, planarei no vento irregular.
Reclame e culpe a terra estéril.
Mas se você estiver tendo idéias brilhantes, se aquiete!
Estou florescendo dentro
Rápido quanto puder, meu bem, espere, me olhe, estarei de fora.
Rápido quanto puder, talvez tarde, mas por fim, ao menos.
Rápido quanto puder, me abandone e deixe essa coisa correr seu curso.
Rápido quanto puder
Rápido quanto puder
Rápido quanto puder
Rápido quanto puder.

Paper Bag

Estava olhando para o céu, apenas procurando por uma estrela.
Para orar, fazer um pedido ou algo assim.
Eu estava tendo uma doce fixação de um devaneio de um garoto
Cuja realidade eu conhecia, era a desesperança de ser tida.
Mas então a pomba da esperança começou sua descida
E eu acreditei por um momento que minhas oportunidades
Estavam se aproximando do meu alcance
Mas enquanto caía por perto, assim caía uma lágrima pesada.
Achei que fosse um pássaro, mas era só um saco de papel.
Fome machuca, mas eu o quero tanto que mata.
Pois eu sei que sou uma bagunça que ele não quer limpar
Tenho que desistir, pois essas mãos tremem demais para segurar.
Fome machuca, mas morrer de fome funciona (?) quando é muito custoso amar.
E fiquei louca de novo hoje, procurando por um fio para escalar.
Procurando por um pouco de esperança
Meu bem disse que não poderia ficar, que não iria pôr seus lábios nos meus.
E um fracasso no beijo é um fracasso na competição
Eu disse: “Querido, não me sinto tão bem, não me sinto justificada.
Venha e ponha um pouco de amor aqui no meu vácuo” - ele disse
"Está tudo na cabeça" - e eu disse, “Assim como tudo está”.
Mas ele não entendeu
Achei que ele fosse um homem, mas era só um garotinho.
Fome machuca, mas eu o quero tanto que mata.
Pois eu sei que sou uma bagunça que ele não quer limpar
Tenho que desistir, pois essas mãos tremem demais para segurar.
Fome machuca, mas morrer de fome funciona (?) quando é muito custoso amar.
Fome machuca, mas eu o quero tanto que mata.
Pois eu sei que sou uma bagunça que ele não quer limpar
Tenho que desistir, pois essas mãos tremem demais para segurar.
Fome machuca, mas morrer de fome funciona (?) quando é muito custoso amar.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Saudade


Andava a esmo deixando a hora passar. Fazia muito frio e sabia que não aguentaria andar por mais tempo. Lembrou-se de um café alí perto, seria o refúgio perfeito. Virou à direita, segunda esquerda e lá estava. Entrou apressado esfregando as mãos por cima das luvas, mas por tempo suficiente para observar o local.

Decoração confortável e aconchegante, mesas ocupadas, burburinho de final de tarde. Café comum para as pessoas das redondezas. Rostos desconhecidos. Ele precisava se aquecer. Sentia saudade de casa e vontade de conversar em português. Pediu, no balcão mesmo, um chocolate quente.

A bebida veio fumegante e seu primeiro gole foi suficiente para lembrar do calor de onde viera. Não, não podia pensar muito nisso, afinal ainda havia um longo período de trabalho naquelas plagas. Estava sozinho mas em paz. O dia havia sido cheio e tenso e tudo o que queria era não pensar, relaxar e desfazer-se da tensão do dia agitado de trabalho.

Pensou em como tinha facilidade em adaptar-se aos lugares e situações e como sua vida tinha mudado recentemente. Nessa mesma época, ano passado, jamais imaginaria-se naquele lugar, tomando esse chocolate quente. Ouviu um celular tocando e lembrou-se que tinha uma ligação a fazer e caso não fosse embora não encontraria a pessoa acordada. Ainda não se acostumara com a diferença dos fusos horários. Pagou o chocolate, agradeceu e saiu.

Durante o caminho gelado, da noite que havia caído, permitiu-se ser tomado pelas recordações e em como o turbilhão em que se envolvera o afastara das pessoas queridas. Apesar de segunda-feira sentiu-se cansado, e pela primeira vez percebeu-se completamente só, sensação desconhecida em anos...

Abriu a porta do prédio, subiu o primeiro conjunto de degraus, o segundo, abriu sua porta, entrou, trancou-a, dirigiu-se para o quarto e deixou-se cair na cama pensando em ligar outro dia, afinal nada iria mudar mesmo. Enquanto isso o sono invadiu-o. Mais um dia se fora.

domingo, janeiro 21, 2007

Presentinho...


Quem nunca teve um domingo a tarde em que a única vontade era ouvir música, pensar baixinho a toa, de bem com o mundo? Escolhendo músicas para combinar com o flash back da memória recente, onde o riso foi largo, as brincadeiras ternas, com direito a pernas entrelaçadas, a cabeça no peito, aconchegados, fazendo planos para a vida futura?

Coisa boa essa! Ter vontade de escrever bobagens de amor, não tão bobagens assim, afinal sinceras, com gostinho de adolescência. Lembrar de como é bom conversar com você (mesmo quando está de mal humor, irritado e vem dar oi -rapidão! - porque também tem saudade) .

Ah, se soubesse como está completamente em mim : "(...) teus pelos, teu gosto, teu rosto, tudo que não me deixa em paz (...)" e que mudaria o mundo para sabê-lo feliz. Tudo bem que quero outro mundo mesmo, então aproveita a deixa e me diz. Por isso "(...) Eu queria ver no escuro do mundo , onde está tudo que você quer, para (...) ' transformar o que não te agrada', (...)ver quais são as cores e as coisas para (...)" aprender você sempre mais.

Então, essa tarde é toda sua (como costumam mesmo ser meus dias): nas músicas, no pensamento e na vontade.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Onde há gente no mundo???


Estou numa lan, ouvindo Miles Davis e em quase "estado de graça", caso não fossem minhas preocupações cotidianas, simples até: como a Minustah no Haiti e as constantes denúncias de prisões arbitrárias e maus tratos aos haitianos; minha mãe, que em decorrência da radioterapia, tem tido sua saúde ainda mais debilitada; e, claro, na minha permanente crise de confiança na humanidade, eu inclusa.

Óbvio que é sobre confiança que quero falar agora...Por que confiar é tão difícil? Como saber se aquilo que se viu acontecendo com o outro de fato não vai "rolar" com você também? Sei que estou cercada por pessoas legítimas nas suas formas de ser e pensar. Mas a humanidade tem sempre um pé enfiado na jaca, e é isso que me destempera, que me faz consultar meus oráculos interiores, falhos inclusive.

Quanto mais se vive, mais sabe-se que chuva molha mesmo, que o fogo queima inevitavelmente e que não se é incólume a essas coisas. Bobagens óbvias camufladas para aqueles que tem super poderes. Como não os tenho, sinto-me frágil e vulnerável, quase ofegante...

Sei que devo ser diferente, que é cansativo ser assim, que isso e aquilo. Mas meu racional está sempre sendo boicotado pela forma como sinto. Meus saltos teimam em manter-me vendo processualmente.

Será que apenas eu sinto-me assim? Todos caminham sem dúvidas, medos, inseguranças? Só eu desconfio da felicidade? Pode ser...mas como disse "meu" grande poeta "... Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo? "

Então para finalizar esse desabafo em plenos pulmões esbanjo Pessoa
"(...)Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (...)