sábado, maio 26, 2007

Não esperem por mim...


Nem sempre as descobertas são boas. Muitas vezes elas nos rasgam com os finos filetes da obscuridade revelada.

Tudo é registrado, armazenado, latente... Tudo!!

A omissão, mesmo seguida de boas intenções corroídas de auto-preservação, é tão grave quanto a mentira. Essa indigesta parceira humana. Sua, minha, de todos.

Ontem transbordei. Minha responsabilidade antiga, recém descoberta, virou-me do avesso. Literalmente. Hoje sinto-me só e quero-me mais que a tudo!

Chega de consentir, de "não-ver"...

Peço licença a todos, mas partir-me é fundamental!

sexta-feira, maio 11, 2007

Se você tem sede lave sua bunda!


Gosto de morar no centro de São Paulo, em que pese a barbárie evidenciada pelos moradores de rua, miseráveis sem teto, trombadinhas e que tais, oriundos das reformas neoliberais impetradas pelo continuísmo lulista e seus antecessores, até que é um bom lugar...

Ainda há algumas áreas verdes, a facilidade de acesso aos equipamentos culturais, hospitais, supermercados, sem contar a arquitetura de alguns prédios antigos, que ainda guardam, entre restos de pintura e dejetos humanos, a dignidade daquilo que foi um dia a elite "santaceciliana",
do final do século XIX.

O prédio onde moro, por exemplo, data da década de 1950, e apresenta vários problemas estruturais, como o das colunas, onde ficam os canos de vazão da caixa d'água. Devido a ação do tempo eles estão enferrujados e houve a necessidade de trocá-los.

Reforma é sempre algo que nos tira do sério. Quando estamos dentro de casa então, é de enlouquecer.

Há cerca de três dias estamos com os tais canos expostos no nosso banheiro, esperando a troca dos mesmos nos apartamentos acima do andar onde moro, a fim de que o serviço fosse bem feito e definitivo, e principalmente, porque a conexão entre um cano e outro dá-se no outro apartamento.

Diante desse quadro armei-me de paciência aguardando a solução do problema. Acontece que entre um apartamento e outro, na vertical, fez-se um buraco no chão, para proceder-se à troca dos canos. Até aí tudo muito lógico e plausível, exceto saber-se flagrado nas suas mais íntimas necessidades pelo vizinho de cima, ou ele por mim, cá embaixo.

Como todos sabemos o quanto pedreiros cumprem prazos com precisão britânica, chegou sexta-feira no final da tarde e, com a sorte que sempre tenho nessas situações, parou-se toda a obra.

Obtive do responsável a promessa de que segunda-feira sem falta meu banheiro estaria "quase" em ordem, aquietei-me concordando com os argumentos, e lá fui eu cuidar das minhas coisas, quando ouvi um barulho de água no banheiro.

Corri para lá olhando tudo com grande espanto e tentando entender a origem toda aquela água...

Sei dizer que depois de síndico acionado, vizinhos, cachorros e cheiro de sabonete barato no ar
descobri que meu "vizinho de cima" decidiu tomar banho e o tal buraco dos canos fez sua água de banho, com sabe-se lá mais o quê, cair em forma de cascata em meu banheiro.

Apesar de argumentar que o pedreiro fora contratado pela síndica, e que a água que encharcava meu banheiro era a do banho do vizinho, eles e seus respectivos banheiros estavam secos!!

Fechei minha porta e enlouquecida cheguei à conclusão de que cada vez mais as pessoas agem de acordo com a quantidade de água que lhes bate na bunda.

Resultado: vociferei a falta de solidariedade humana enquanto lavava meu banheiro, pensando em qual guarda-chuva usaria para prevenir-me de possíveis cascatas na madrugada...

quarta-feira, maio 09, 2007

Vazio...


A noite estava fria, assim como tinha sido todo o dia. Ela procurou algo para se agasalhar e, quem sabe dessa forma amenizar sua sensação de vazio.

Decidiu fazer um chá. Enquanto repetia os gestos mecânicos de preparar a bebida, lembrava das ações cotidianas de solidariedade. Sabia das pessoas queridas a envolverem em carinho. No entanto, isso era insuficiente.

Sentia o peso da reação das pessoas ao perceberem sua tristeza e solidão e de quanto havia sido referência a elas. No último mês ouvira muito isso. As frases objetivavam consolá-la, mas subentendiam que recuperaria sua antiga forma de ser, afinal sempre fora tão forte, tão decidida, tão...

Jamais seria o que fora. Começava a aprender a ver-se nesse amálgama que construíra na sobrevivência cotidiana. Seria qualquer outra coisa, exceto a carapaça institucional das palavras solidárias.

Enquanto aquecia suas mãos, na caneca de chá quente, tentava vislumbrar sua síntese.