sexta-feira, setembro 15, 2006

De longe...


Hoje quase fumei. Se não fosse por um isso, o teria feito. Ao descer do ônibus, parei na banca de jornais. Tinha de fazer algo, não sabia o que. Senti o gosto do cigarro na boca, o cheiro, gostei do que imaginei. Pensei: "Vai me acalmar". Mas duas crianças compravam balas e conversavam com a vendedora, minha aflição impediu-me de fumar. Fui embora.

Já é noite, todos dormem
e permaneço com essa sensação de que tenho algo para fazer. Não tenho cigarros e navego a toa. Fico pensando...Percebo o que me incomoda: a impotência.

Seria capaz de correr o mundo, seria capaz de qualquer coisa para você não sofrer. Mas é inevitável. Você já está sofrendo por trás da sua roupa de heroína. Ela lhe cai bem. Quase ninguém percebe. Durante anos acreditei nela, noutros, a copiei. Hoje respeito-lhe. Sua roupa me é transparente e lhe vejo frágil. Sinto sua dor que se mistura à minha. Você não merecia. Não sei se alguém merece, pouco importa agora. Sei que você não.

Pela manhã, quando conversamos ao telefone, disfarçamos bem. Você de que era forte. Eu de que não tinha medo. Quando desligamos, chorei. O Pedro veio e me abraçou. Não dava mais para chorar. Fiz o que você me ensinou : sequei as lágrimas e segui com o que tinha de ser feito. A vida é assim, fazemos o que tem de ser. Simples. Tem horas em que não gosto de viver.

Queria ser menina para voltar ao tempo de estar no seu colo, protegida. Assim você também estaria bem. Acho. Só não poderia ser quem sou agora, porque não estaria no seu colo, mas em pé, assustada, vendo o mundo com olhos grandes. Fica tranquila, segredos não se contam. Pronto, cresci de novo.

Não sei se algo lhe afligia naquele tempo. Não saberia dizer das suas angústias, dúvidas, nem se as tinha.

Sei de hoje. Há um tempo me diz estar cansada, então, deite-se no meu colo, descanse, feche os olhos que eu cuido de você.

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